STF vota por liberar
aborto de feto sem cérebro
Com
o voto do ministro Ayres Britto nesta quinta (12), a maioria dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestou, mesmo antes do final do
julgamento, favorável à permissão do aborto de feto sem cérebro.Dos dez
ministros que analisam o tema, seis votaram a favor da liberação e um contra -
Dias Toffoli não participa do julgamento porque se declarou impedido, já que,
quando era advogado-geral da União, se manifestou publicamente sobre o tema.Embora
com maioria, o resultado do julgamento ainda não é definitivo. Até o final da
sessão, qualquer ministro pode decidir modificar o voto.
Britto
- favorável à liberação - foi o primeiro ministro a votar nesta quinta, no
segundo dia de julgamento da ação proposta em 2004 pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Saúde.Na quarta (11), votaram pela liberação do aborto de
anencéfalos Marco Aurélio Mello, Rosa Weber, Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Cármen
Lúcia. Ricardo Lewandowski foi contra. Também votarão os ministros Gilmar
Mendes, Celso de Mello e o presidente do STF, ministro Cezar Peluso.A ação da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde pede que o Supremo permita, em
caso de anencefalia, que a mulher possa escolher interromper a gravidez. Por
lei, o aborto é crime em todos os casos, exceto se houver estupro ou risco de
morte da mãe.O entendimento do STF valerá para todos os casos semelhantes, e os
demais órgãos do Poder Público serão obrigados a respeitá-la.A maioria dos
ministros entendeu que a decisão de interromper a gravidez do feto sem cérebro
é direito da mulher, que não pode ser oprimida pela possibilidade de punição."Não
se pode tipificar esse direito de escolha [da mulher] como caracterizador do
aborto, proibido pelo Código Penal", afirmou Ayres Britto ao justificar
seu voto. Segundo ele, "o feto anencéfalo é uma crisálida que jamais, em
tempo algum, chegará ao estágio de borboleta porque não alçará voo
jamais".Para o relator do caso, Marco Aurélio Mello, é inconstitucional a
interpretação segundo a qual interromper a gravidez de feto anencéfalo é crime
previsto em lei. Para ele, o termo aborto não é correto para casos de
anencefalia, pois não há possibilidade de vida do feto nessas condições.“Não é
escolha fácil. Todas as opções são de dor. Exatamente, fundado na dignidade da
vida, neste caso, acho que esta interrupção não é criminalizável. [...]O útero
é o primeiro berço do ser humano. Quando o berço se transforma em um pequeno
esquife a vida se entorta”, afirmou a ministra Cármen Lúcia.
Para
o ministro Luiz Fux, "impedir a interrupção da gravidez sob ameaça penal
equivale à tortura."Alguns ministros ressaltaram que o Supremo não está
discutindo a legalização do aborto de modo geral ou obrigando mulheres grávidas
de fetos anencéfalos a interromper a gestação. A Corte discute se é crime
interromper a gestação de um feto que, de acordo com a avaliação de
especialistas, não tem chances de vida fora do útero.“Faço questão de frisar
que este Supremo Tribunal Federal não está decidindo permitir o aborto”, disse
Cármen Lúcia.“O Supremo, evidentemente, que respeita e vai consagrar aquelas mulheres
que desejarem realizar o parto ainda que o feto seja anencefálico”, afirmou
Luiz Fux.
Divergência
O
ministro Ricardo Lewandowski, que abriu a divergência após cinco votos
favoráveis à liberação do aborto, afirmou que o Supremo não pode interpretar a
lei com a intenção de “inserir conteúdos”, sob pena de “usurpar” o poder do
Legislativo, que atua na representação direta do povo.
"Uma
decisão judicial isentando de sanção o aborto de fetos anencéfalos, ao arrepio
da legislação existente, além de discutível do ponto de vista científico,
abriria as portas para a interrupção de gestações de inúmeros embriões que
sofrem ou viriam sofrer outras doenças genéticas ou adquiridas que de algum
modo levariam ao encurtamento de sua vida intra ou extra-uterina", disse
Lewandowski.
Fonte: G1
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