quinta-feira, 19 de abril de 2012

Chacina de Icoaraci


Há exatos cinco meses da chacina que vitimou seis adolescentes em Icoaraci, na Região Metropolitana de Belém, 30 pessoas – dentre testemunhas de acusação e defesa - devem depor na sede do Fórum Criminal do distrito, na manhã de quinta-feira (19). O interrogatório, que será presidido pela juíza Rubilene Silva Rosário, da 3ª Vara Criminal de Icoaraci, marca o início da instrução do processo criminal contra os ex-policiais militares Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa, acusados de terem executado os jovens que tinham idade entre 12 e 17 anos. Uma das vítimas, Isaac, se estivesse vivo, completaria aniversário hoje. Uma manifestação em frente ao Fórum pretende reunir dezenas de moradores do distrito para pedir justiça.
De acordo com o avô de duas das vítimas, Antônio Rodrigues, 65, os familiares dos adolescentes foram orientados a não dar entrevistas à imprensa porque o processo segue em segredo de Justiça e qualquer troca de informações poderá prejudicar o andamento das investigações.
“O advogado que está cuidando do caso pediu que a gente não falasse nada sobre o assunto, até porque ele é quem está por dentro de toda a situação. A gente só sabe que os dois acusados continuam presos”, comentou Antônio.
Ele é o avô dos irmãos Gabriel e Samuel e foi o primeiro familiar a reconhecer as vítimas. Apesar disso, não foi intimado para depor. “A intimação chegou apenas para o pai dos meninos, Carlos Alberto, mas é provável que ele não vá porque está morando em São Paulo. Foi trabalhar para lá depois que os filhos morreram”, acrescentou
O promotor de justiça José Haroldo Carneio Matos, vai acompanhar o interrogatório a fim de convencer o Poder Judiciário da participação de Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa na execução dos adolescentes. Junto com o promotor, estarão mais três advogados, representantes do Cedeca/Emaús, que deverão atuar na acusação.
A denúncia do Ministério Público se baseia em provas e depoimentos de testemunhas que viram como o crime aconteceu. Além disso, o MP vai se utilizar dos laudos periciais das armas apreendidas e no resultado do exame necroscópico feito nas vítimas. O promotor pretende levar os acusados a julgamento ainda este ano, pelo crime de homicídio triplamente qualificado.
MEDO E SILÊNCIO
Na rua Padre Júlio Maria, onde o crime aconteceu, muitos moradores ainda têm medo de tecer algum comentário sobre este triste episódio vivido na noite do último dia 19 de novembro. “Por aqui poucas pessoas ainda tocam no assunto, muitos têm medo. Se ele (Rosevan Moraes – principal acusado) matou seis pessoas em poucos minutos, para matar uma é muito mais rápido, então ninguém gosta de tocar no assunto”, diz a comerciante Paula Palheta, 37 anos
Alguns vizinhos das vítimas, que preferem não se identificar, chegam a ficar emocionados quando lembram dos adolescentes. “O Isaac era um rapaz muito querido. Eu sinto até um aperto no coração quando me recordo dessa situação e vejo que ele não está mais entre nós”, lamentou um vizinho.
Os moradores alegam que depois chacina a Polícia Militar intensificou a ronda pela área, mesmo assim há quem não se sinta seguro após o crime. “A gente não vê mais moradores sentados em frente às suas casas, conversando até tarde da noite. As pessoas estão assustadas, ainda traumatizadas”, resumiu o vizinho de Isaac.
MANIFESTAÇÃO
A ONG Icoaraci Periferia confirmou que, durante os depoimentos das testemunhas e dos acusados, vai realizar uma manifestação pacífica em frente à sede do Fórum Criminal. De acordo com a coordenadora da ONG, Leila Rosa Palheta, o ato será cobrar do poder público uma resposta concreta para este crime brutal.
“Nós iríamos fazer uma caminhada pelas ruas de Icoaraci, mas como a audiência coincidiu com a data de 5 meses do assassinato , mudamos a manifestação e decidimos realizar um ato em frente ao Fórum”, esclareceu Leila Palheta. Faixas, cartazes e fotos da vítima serão usadas para pedir que a justiça seja feita. Por conta dessa manifestação, a juíza Rubilene Silva Rosário pediu o reforço policial em frente ao Fórum no intuito de evitar tumultos.
LAUDO
Informações não oficiais dão conta que em um dos laudos, emitido pelo IML, estaria a confirmação de que duas das vítimas foram mortas por balas disparadas pela arma do ex-policial militar Rosevan Moraes. Em nota, o IML não confirmou se a informação procede ou não. De acordo com a Diretoria Geral, como as investigações correm em segredo de justiça o instituto não está autorizado a repassar nenhuma informação.
(Diário do Pará)


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