Há cinco meses, Ana Lúcia Viana
trava um luta diária. Um esforço constante para se livrar do peso que a
lembrança da execução do filho, João Paulo Viana, 16 anos, traz. O adolescente
é uma das seis vítimas da chacina ocorrida na rua Padre Júlio, em Icoaraci, na
noite do dia 19 de novembro.
quinta-feira (19), com uma faixa
em punho, a mãe pedia justiça enquanto aguardava com ansiedade o resultado da
audiência que decidirá se os dois suspeitos do crime, os ex-policiais militares
Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa, irão a júri
popular ainda este ano.
“Nossa rotina jamais voltou ao
normal. O medo é constante a gente não sabe mais se quem está ao nosso lado é
do bem. A preocupação com os três filhos é redobrada, um grande pavor nos
cerca”, revelou Ana Lúcia, que não foi convocada como testemunha para a
audiência de ontem, apenas o pai do rapaz foi convocado pela Justiça. “Não
sabemos o que vai acontecer. A gente só espera que a Justiça seja feita para
que outras mães não sofram como eu”, pediu.
A audiência, que marcou o início
da instrução do processo criminal, ocorreu no salão de Júri do Fórum Criminal
de Icoaraci e previa o interrogatório de 30 pessoas, dentre testemunhas de
defesa, acusação e suspeitos, mas a imprensa foi impedida de acompanhar a
sessão. A juíza Rubilene Silva Rosário, da 3º Vara Criminal do distrito, só deu
início ao trabalho após a saída dos jornalistas do prédio - segundo ela, foi um
pedido de ambas as partes envolvidas. O promotor de justiça, José Haroldo
Cordeiro Matos, declarou que a expectativa era ouvir todas as testemunhas ainda
ontem e sair do Fórum com os dois ex-policiais “pronunciados”, ou seja,
sentenciados a um futuro julgamento popular, mas a decisão foi adiada. Como não
foi possível colher o depoimento de todas as testemunhas uma nova audiência
ficou marcada para o próximo mês.
O advogado de defesa de Rosevan,
Arnaldo Lopes, afirmou que o cliente não tem participação alguma no crime e
garantiu ter provas dessa inocência. Ele também declarou que o passado do
ex-policial militar não tem relação com o caso, uma referência ao fato de
Rosevan, na época cabo da Polícia Militar, ter sido expulso da corporação em
2005, sob acusação de ter praticado atos ilícitos. Em 2008, Rosevan foi preso
em uma grande operação chamada “Navalha na Carne”. A suspeita era de
envolvimento em um grupo de extermínio responsável por diversos crimes. Ele
ficou quase três anos preso preventivamente, até ter acatado o pedido para
responder o processo em liberdade. Alexandre Vasquez, advogado que representa o
segundo suspeito, Antônio Luiz Benardino, preferiu não se pronunciar alegando
que ainda era prematuro falar sobre o caso.
MANIFESTAÇÕES
Organizados pela ONG Icoaraci
Periferia, amigos e parentes das vítimas permaneciam em frente à sede do Fórum
Crimina aguardando a decisão da juíza. Eles cobravam do poder público uma
resposta para o crime. “Não viemos fazer papel de polícia, não nos cabe julgar
ninguém. Queremos apenas respostas contra uma rede de assassinos que está
exterminando nossos filhos”, argumentou Leila Palheta, coordenadora da ONG.
O primo de dois irmãos
assassinados, Samuel e Gabriel Rodrigues, foi um dos que participaram do ato.
Ele informou que apesar de ter sido intimado, o pai das duas vítimas não pode
comparecer ao Fórum e que a mãe teria tentado substituí-lo, sem sucesso. “Ela
veio para acompanhar, mas foi impedida porque não foi intimada. Vamos aguardar
aqui fora. Até hoje a nossa família está abalada. Foram duas perdas de uma só
vez”, lamentou o rapaz que preferiu não ser identificado.
Os familiares de Antônio Luiz
Benardino também se manifestaram em frente ao prédio. Organizados com faixas, o
grupo garantia a inocência do ex policial militar que serviu à corporação por
16 anos. “Ele é 100% inocente. Não tem inimizades. O problema são as pessoas
que não gostam da polícia. No momento do crime ele estava comigo em uma
pizzaria. Nossas testemunhas estão aí. Temos fé em Deus que tudo ficará
esclarecido”, afirmou a esposa de Benardino, Jaqueline Miranda, que negou a
amizade entre seu marido e Rosevan. “Eles nunca foram amigos. Não existe
ligação nenhuma entre os dois”, garantiu.
CRIME
O crime ocorreu na noite do dia
19 de novembro de 2011 em Icoaraci. Seis adolescentes, com idades entre 12 e 17
anos, foram executados na rua Padre Júlio Maria por volta das 22h30. Segundo
testemunhas, dois homens chegaram ao local de moto apresentando-se como
policiais. Um deles teria ordenado que os adolescentes ficassem de costas,
ajoelhados e com as mãos na cabeça para na seqüência executar um a um com
diversos tiros, todos na cabeça. Cinco das vítimas morreram na hora, apenas uma
chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do hospital. Os ex policiais
militares, Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa, são
apontados como principais suspeitos da chacina. O Ministério Público Estadual
acompanha as investigações e propõe ação penal por crime de homicídio
triplamente qualificado.
(Diário do Pará)
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