sexta-feira, 20 de abril de 2012

Chacina de Icoaraci: Audiência adiada.


Há cinco meses, Ana Lúcia Viana trava um luta diária. Um esforço constante para se livrar do peso que a lembrança da execução do filho, João Paulo Viana, 16 anos, traz. O adolescente é uma das seis vítimas da chacina ocorrida na rua Padre Júlio, em Icoaraci, na noite do dia 19 de novembro.
quinta-feira (19), com uma faixa em punho, a mãe pedia justiça enquanto aguardava com ansiedade o resultado da audiência que decidirá se os dois suspeitos do crime, os ex-policiais militares Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa, irão a júri popular ainda este ano.
“Nossa rotina jamais voltou ao normal. O medo é constante a gente não sabe mais se quem está ao nosso lado é do bem. A preocupação com os três filhos é redobrada, um grande pavor nos cerca”, revelou Ana Lúcia, que não foi convocada como testemunha para a audiência de ontem, apenas o pai do rapaz foi convocado pela Justiça. “Não sabemos o que vai acontecer. A gente só espera que a Justiça seja feita para que outras mães não sofram como eu”, pediu.
A audiência, que marcou o início da instrução do processo criminal, ocorreu no salão de Júri do Fórum Criminal de Icoaraci e previa o interrogatório de 30 pessoas, dentre testemunhas de defesa, acusação e suspeitos, mas a imprensa foi impedida de acompanhar a sessão. A juíza Rubilene Silva Rosário, da 3º Vara Criminal do distrito, só deu início ao trabalho após a saída dos jornalistas do prédio - segundo ela, foi um pedido de ambas as partes envolvidas. O promotor de justiça, José Haroldo Cordeiro Matos, declarou que a expectativa era ouvir todas as testemunhas ainda ontem e sair do Fórum com os dois ex-policiais “pronunciados”, ou seja, sentenciados a um futuro julgamento popular, mas a decisão foi adiada. Como não foi possível colher o depoimento de todas as testemunhas uma nova audiência ficou marcada para o próximo mês.
O advogado de defesa de Rosevan, Arnaldo Lopes, afirmou que o cliente não tem participação alguma no crime e garantiu ter provas dessa inocência. Ele também declarou que o passado do ex-policial militar não tem relação com o caso, uma referência ao fato de Rosevan, na época cabo da Polícia Militar, ter sido expulso da corporação em 2005, sob acusação de ter praticado atos ilícitos. Em 2008, Rosevan foi preso em uma grande operação chamada “Navalha na Carne”. A suspeita era de envolvimento em um grupo de extermínio responsável por diversos crimes. Ele ficou quase três anos preso preventivamente, até ter acatado o pedido para responder o processo em liberdade. Alexandre Vasquez, advogado que representa o segundo suspeito, Antônio Luiz Benardino, preferiu não se pronunciar alegando que ainda era prematuro falar sobre o caso.
MANIFESTAÇÕES
Organizados pela ONG Icoaraci Periferia, amigos e parentes das vítimas permaneciam em frente à sede do Fórum Crimina aguardando a decisão da juíza. Eles cobravam do poder público uma resposta para o crime. “Não viemos fazer papel de polícia, não nos cabe julgar ninguém. Queremos apenas respostas contra uma rede de assassinos que está exterminando nossos filhos”, argumentou Leila Palheta, coordenadora da ONG.
O primo de dois irmãos assassinados, Samuel e Gabriel Rodrigues, foi um dos que participaram do ato. Ele informou que apesar de ter sido intimado, o pai das duas vítimas não pode comparecer ao Fórum e que a mãe teria tentado substituí-lo, sem sucesso. “Ela veio para acompanhar, mas foi impedida porque não foi intimada. Vamos aguardar aqui fora. Até hoje a nossa família está abalada. Foram duas perdas de uma só vez”, lamentou o rapaz que preferiu não ser identificado.
Os familiares de Antônio Luiz Benardino também se manifestaram em frente ao prédio. Organizados com faixas, o grupo garantia a inocência do ex policial militar que serviu à corporação por 16 anos. “Ele é 100% inocente. Não tem inimizades. O problema são as pessoas que não gostam da polícia. No momento do crime ele estava comigo em uma pizzaria. Nossas testemunhas estão aí. Temos fé em Deus que tudo ficará esclarecido”, afirmou a esposa de Benardino, Jaqueline Miranda, que negou a amizade entre seu marido e Rosevan. “Eles nunca foram amigos. Não existe ligação nenhuma entre os dois”, garantiu.
CRIME
O crime ocorreu na noite do dia 19 de novembro de 2011 em Icoaraci. Seis adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, foram executados na rua Padre Júlio Maria por volta das 22h30. Segundo testemunhas, dois homens chegaram ao local de moto apresentando-se como policiais. Um deles teria ordenado que os adolescentes ficassem de costas, ajoelhados e com as mãos na cabeça para na seqüência executar um a um com diversos tiros, todos na cabeça. Cinco das vítimas morreram na hora, apenas uma chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do hospital. Os ex policiais militares, Rosevan Moraes de Almeida e Antônio Luiz Benardino da Costa, são apontados como principais suspeitos da chacina. O Ministério Público Estadual acompanha as investigações e propõe ação penal por crime de homicídio triplamente qualificado.
 (Diário do Pará)

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