A influência da Amazônia sobre
o clima global ainda é um tema controverso. As dificuldades de se avaliar os
parâmetros relevantes são muitas e complexas, e as estimativas podem variar em
mais de 100% (Nobre, 1992).
A Floresta Amazônica influi no
clima principalmente através da emissão ou retenção de gases e da
evapotranspiração - isto é, transpiração das plantas e evaporação da água
retida nas folhas, caules e na serrapilheira (material vegetal descartado). A
evapotranspiração na Amazônia é tão grande que é responsável por cerca de 50%
das chuvas que a floresta recebe. O restante é originário de águas trazidas do
Oceano Atlântico através dos ventos, como parte do ciclo hidrológico da região. Esta é uma cifra imensa:
estima-se que a contribuição média da evapotranspiração das florestas em geral
para as chuvas locais, nas latitudes temperadas, seja de apenas 10% (Beltrão).
A influência maior e mais
discutida, entretanto, refere-se à produção e retenção de gases, em especial o
oxigênio (O2) e os chamados gases estufa, como o gás carbônico (CO2), o vapor
de água (H2O) e o metano (CH4).
Quanto à emissão de oxigênio,
ao contrário do que muitas vezes é dito, a Amazônia não pode ser considerada o
"pulmão do mundo" por causa de sua produção desse gás. Durante o dia,
a vegetação verde produz oxigênio e absorve gás carbônico através da
fotossíntese; porém, durante a noite, ocorre o processo inverso (respiração),
com a absorção de oxigênio e a liberação de gás carbônico. O equilíbrio, porém,
não é perfeito, e o saldo final - se haverá mais produção do que absorção de
CO2 e O2 - dependerá de outros processos, como as queimadas e o
reflorestamento. O reflorestamento resulta na absorção de gás carbônico, pois a
floresta em crescimento precisa do carbono presente na molécula de CO2 para a
constituição da matéria orgânica de que as plantas são feitas. Já as queimadas
liberam gás carbônico. Outras partes do globo, como as regiões do oceano ricas
em plânctons, têm saldo final de produção de oxigênio.
O efeito estufa
Os gases estufa são
responsáveis pelo chamado efeito estufa, um fenômeno importantíssimo na
manutenção da estabilidade da temperatura na superfície terrestre.
A luz solar tem uma composição
complexa, incluindo a luz visível e as radiações gama, ultravioleta e
infravermelha. A maior parte da sua energia, porém, concentra-se na luz visível
e nos raios ultravioleta. Os raios ultravioleta solares são parcialmente
absorvidos pelo gás ozônio (O3), concentrado a uma altura entre 25 e 30 km do
solo.
A luz visível, porém, passa
através da atmosfera, que lhe é transparente, e alcança o solo em grande
quantidade. Parte dessa luz é refletida pela superfície e devolvida ao espaço,
e parte é absorvida.
A luz absorvida contribui para
aquecer a superfície da Terra e é reemitida - porém agora na forma de radiação
infravermelha. Essa radiação infravermelha não é, entretanto, totalmente
devolvida ao espaço. Boa parte dela é absorvida pelos gases estufa,
concentrados nas camadas baixas da atmosfera. Isso faz com que esses gases se
aqueçam e com eles se aqueça a atmosfera. Os gases estufa funcionam, assim,
como um "cobertor" que deixa passar a luz solar mas não a radiação
infravermelha, esquentando a região próxima à terrestre a uma temperatura
adequada à formação da vida. Este aquecimento devido aos gases estufa é chamado
"efeito estufa". Assim, nas regiões tropicais a temperatura média
junto à superfície da Terra é de 30°, enquanto, 10 km acima da superfície, a
temperatura desce para cerca de -70º.
A intensidade do efeito estufa
depende das concentrações dos gases estufa. Uma concentração baixa implica em
uma superfície mais fria; um aumento da concentração, no seu aquecimento. Um
aquecimento da Terra de poucos graus teria conseqüências funestas, como a
elevação do nível dos oceanos devido à sua expansão térmica e o derretimento de
gelo nas calotas polares e nas geleiras, submergindo parte das cidades
costeiras. Desde a década de 1980 existem evidências conclusivas de que a
concentração dos gases estufas vem aumentando, em grande parte por causa das
atividades industriais e de artefatos tecnológicos como automóveis - mas também
por causa de queimadas em florestas.
A contribuição das queimadas na
Amazônia para o efeito estufa é controversa, por causa das grandes dificuldades
inerentes em se determinar quanto de CO2 é liberado na atmosfera pela queima da
sua biomassa. Nobre (Nobre,1992)
estima uma quantidade máxima de carbono liberada entre 0,24 e 0,42 TgC/ano
(teragramas, ou milhões de toneladas, de carbono por ano). Como a quantidade
anual de carbono emitida pelo desmatamento nas florestas tropicais de todo o
mundo está ao redor de 2TgC/ano (Houghton
et al., 1991), a Amazônia contribui com 12% a 21% dessa quantidade. Porém,
apesar de haver consenso em que a emissão de gás carbônico aumenta o efeito
estufa, não existem dados conclusivos sobre que aumento de temperatura tal emissão
provocaria, nem qual a porcentagem dessas emissões em relação à emissão total
mundial de carbono (originária em grande parte de atividades industriais e
artefatos tecnológicos como automóveis).
Os mecanismos de
desenvolvimento limpo
A preocupação com os efeitos
das emissões de carbono sobre o efeito estufa levaram a diversas negociações
internacionais para reverter o aumento do CO2 na atmosfera. O processo de
absorção do carbono atmosférico (principalmente através da retenção de CO2) é
conhecido como "seqüestro de carbono".
Em 1990 foi estabelecida, pela
Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o Comitê
Intergovernamental de Negociação para a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima
(INC/FCCC). O
texto da Convenção foi assinado em junho de 1992 na Cúpula da Terra, no Rio de
Janeiro (evento que fez parte da ECO-92), e entrou em vigor em 21 de março de
1994.
Em 1997, uma conferência da
Convenção-Quadro em Quioto, no Japão, adotou um Protocolo (o Protocolo de Quioto)
segundo o qual os países industrializados devem reduzir suas emissões de gases
estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008
e 2012. O Brasil não está incluído nesses países, por não emitir o suficiente.
O Protocolo também estabelece
um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um
conjunto de sistemas de financiamento dos países que mais emitem carbono aos
países mais pobres, para conservação e recuperação de florestas e adoção de
tecnologias limpas. Esse mecanismo inclui um "mercado de carbono",
pelo qual os países industrializados poderiam comprar cotas de emissão de
carbono ("créditos de seqüestro de carbono") dos países que emitem
menos. O documento passará a vigorar, entretanto, apenas após um número mínimo
de países ratificá-lo.
As ratificações do Protocolo de
Quioto deverão avançar na Sexta Conferência das Partes da Convenção-Quadro
(COP-6), a se realizar em Haia, Holanda, entre 13 e 24 de novembro, quando
serão discutidos os mecanismos de desenvolvimento limpo e se decidirá como
implementar os tópicos estabelecidos no Protocolo de Quioto. As discussões
deverão envolver a Amazônia, não só por ser importante fonte de emissão de
carbono (por causa das queimadas), mas também por poder ser usada para reverter
o aumento das emissões (se forem implementados reflorestamentos).
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