sábado, 26 de maio de 2012

A Amazônia e o clima mundial



A influência da Amazônia sobre o clima global ainda é um tema controverso. As dificuldades de se avaliar os parâmetros relevantes são muitas e complexas, e as estimativas podem variar em mais de 100% (Nobre, 1992).
A Floresta Amazônica influi no clima principalmente através da emissão ou retenção de gases e da evapotranspiração - isto é, transpiração das plantas e evaporação da água retida nas folhas, caules e na serrapilheira (material vegetal descartado). A evapotranspiração na Amazônia é tão grande que é responsável por cerca de 50% das chuvas que a floresta recebe. O restante é originário de águas trazidas do Oceano Atlântico através dos ventos, como parte do ciclo hidrológico da região. Esta é uma cifra imensa: estima-se que a contribuição média da evapotranspiração das florestas em geral para as chuvas locais, nas latitudes temperadas, seja de apenas 10% (Beltrão).
A influência maior e mais discutida, entretanto, refere-se à produção e retenção de gases, em especial o oxigênio (O2) e os chamados gases estufa, como o gás carbônico (CO2), o vapor de água (H2O) e o metano (CH4).
Quanto à emissão de oxigênio, ao contrário do que muitas vezes é dito, a Amazônia não pode ser considerada o "pulmão do mundo" por causa de sua produção desse gás. Durante o dia, a vegetação verde produz oxigênio e absorve gás carbônico através da fotossíntese; porém, durante a noite, ocorre o processo inverso (respiração), com a absorção de oxigênio e a liberação de gás carbônico. O equilíbrio, porém, não é perfeito, e o saldo final - se haverá mais produção do que absorção de CO2 e O2 - dependerá de outros processos, como as queimadas e o reflorestamento. O reflorestamento resulta na absorção de gás carbônico, pois a floresta em crescimento precisa do carbono presente na molécula de CO2 para a constituição da matéria orgânica de que as plantas são feitas. Já as queimadas liberam gás carbônico. Outras partes do globo, como as regiões do oceano ricas em plânctons, têm saldo final de produção de oxigênio.
O efeito estufa
Os gases estufa são responsáveis pelo chamado efeito estufa, um fenômeno importantíssimo na manutenção da estabilidade da temperatura na superfície terrestre.
A luz solar tem uma composição complexa, incluindo a luz visível e as radiações gama, ultravioleta e infravermelha. A maior parte da sua energia, porém, concentra-se na luz visível e nos raios ultravioleta. Os raios ultravioleta solares são parcialmente absorvidos pelo gás ozônio (O3), concentrado a uma altura entre 25 e 30 km do solo.
A luz visível, porém, passa através da atmosfera, que lhe é transparente, e alcança o solo em grande quantidade. Parte dessa luz é refletida pela superfície e devolvida ao espaço, e parte é absorvida.
A luz absorvida contribui para aquecer a superfície da Terra e é reemitida - porém agora na forma de radiação infravermelha. Essa radiação infravermelha não é, entretanto, totalmente devolvida ao espaço. Boa parte dela é absorvida pelos gases estufa, concentrados nas camadas baixas da atmosfera. Isso faz com que esses gases se aqueçam e com eles se aqueça a atmosfera. Os gases estufa funcionam, assim, como um "cobertor" que deixa passar a luz solar mas não a radiação infravermelha, esquentando a região próxima à terrestre a uma temperatura adequada à formação da vida. Este aquecimento devido aos gases estufa é chamado "efeito estufa". Assim, nas regiões tropicais a temperatura média junto à superfície da Terra é de 30°, enquanto, 10 km acima da superfície, a temperatura desce para cerca de -70º.
A intensidade do efeito estufa depende das concentrações dos gases estufa. Uma concentração baixa implica em uma superfície mais fria; um aumento da concentração, no seu aquecimento. Um aquecimento da Terra de poucos graus teria conseqüências funestas, como a elevação do nível dos oceanos devido à sua expansão térmica e o derretimento de gelo nas calotas polares e nas geleiras, submergindo parte das cidades costeiras. Desde a década de 1980 existem evidências conclusivas de que a concentração dos gases estufas vem aumentando, em grande parte por causa das atividades industriais e de artefatos tecnológicos como automóveis - mas também por causa de queimadas em florestas.
A contribuição das queimadas na Amazônia para o efeito estufa é controversa, por causa das grandes dificuldades inerentes em se determinar quanto de CO2 é liberado na atmosfera pela queima da sua biomassa. Nobre (Nobre,1992) estima uma quantidade máxima de carbono liberada entre 0,24 e 0,42 TgC/ano (teragramas, ou milhões de toneladas, de carbono por ano). Como a quantidade anual de carbono emitida pelo desmatamento nas florestas tropicais de todo o mundo está ao redor de 2TgC/ano (Houghton et al., 1991), a Amazônia contribui com 12% a 21% dessa quantidade. Porém, apesar de haver consenso em que a emissão de gás carbônico aumenta o efeito estufa, não existem dados conclusivos sobre que aumento de temperatura tal emissão provocaria, nem qual a porcentagem dessas emissões em relação à emissão total mundial de carbono (originária em grande parte de atividades industriais e artefatos tecnológicos como automóveis).
Os mecanismos de desenvolvimento limpo
A preocupação com os efeitos das emissões de carbono sobre o efeito estufa levaram a diversas negociações internacionais para reverter o aumento do CO2 na atmosfera. O processo de absorção do carbono atmosférico (principalmente através da retenção de CO2) é conhecido como "seqüestro de carbono".
Em 1990 foi estabelecida, pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o Comitê Intergovernamental de Negociação para a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (INC/FCCC). O texto da Convenção foi assinado em junho de 1992 na Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro (evento que fez parte da ECO-92), e entrou em vigor em 21 de março de 1994.
Em 1997, uma conferência da Convenção-Quadro em Quioto, no Japão, adotou um Protocolo (o Protocolo de Quioto) segundo o qual os países industrializados devem reduzir suas emissões de gases estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008 e 2012. O Brasil não está incluído nesses países, por não emitir o suficiente.
O Protocolo também estabelece um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um conjunto de sistemas de financiamento dos países que mais emitem carbono aos países mais pobres, para conservação e recuperação de florestas e adoção de tecnologias limpas. Esse mecanismo inclui um "mercado de carbono", pelo qual os países industrializados poderiam comprar cotas de emissão de carbono ("créditos de seqüestro de carbono") dos países que emitem menos. O documento passará a vigorar, entretanto, apenas após um número mínimo de países ratificá-lo.
As ratificações do Protocolo de Quioto deverão avançar na Sexta Conferência das Partes da Convenção-Quadro (COP-6), a se realizar em Haia, Holanda, entre 13 e 24 de novembro, quando serão discutidos os mecanismos de desenvolvimento limpo e se decidirá como implementar os tópicos estabelecidos no Protocolo de Quioto. As discussões deverão envolver a Amazônia, não só por ser importante fonte de emissão de carbono (por causa das queimadas), mas também por poder ser usada para reverter o aumento das emissões (se forem implementados reflorestamentos).


FONTE: AMAZÔNIA: INTERESSES E CONFLITOS

sexta-feira, 25 de maio de 2012

VETA TUDO DILMA


A presidente Dilma Rousseff fez 12 vetos e 32 modificações ao novo Código Florestal, informaram nesta sexta-feira (25) os ministros da Advocacia Geral da União (AGU), do Meio Ambiente, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. Para compensar os cortes e adequar o texto aos propósitos do Planalto, será editada uma medida provisória com ajustes e acréscimos.
O objetivo dos cortes e mudanças no texto aprovado no Congresso, de acordo com o governo, é inviabilizar anistia a desmatadores, beneficiar o pequeno produtor e favorecer a preservação ambiental. Os vetos ainda serão analisados pelo Congresso, que tem a prerrogativa de derrubá-los. O artigos vetados serão detalhados junto com o envio da MP na segunda-feira (28). "São 12 vetos, são 32 modificações, das quais 14 recuperam o texto do Senado Federal, cinco respondem a dispositivos novos incluídos e 13 são adequações ao conteúdo do projeto de lei", explicou Adams. O prazo para sanção do texto, que trata sobre a preservação ambiental em propriedades rurais, vencia nesta sexta.

No Congresso, ministros de Dilma participaram das discussões para o texto aprovado no Senado. No entanto, o projeto foi modificado na Câmara em uma derrota imposta ao governo pela bancada ruralista

DELEGADO PRESO COM MACONHA


O delegado Paulo de Tarso, a sua esposa e mais dois oficias foram detidos no Conjunto Guajará I, em Ananindeua, na noite desta sexta-feira (25). Os quatro teriam sido pegos portando maconha. O flagrante foi conduzido por policiais da Divisão de Crimes Funcionais (DCRIF).
Os policiais e a mulher estão sendo apresentados à Delegacia Geral da Polícia Civil, localizada na avenida Magalhães Barata.
Procurada, a DCRIF informou que não pode dar mais detalhes sobre as prisões por telefone. Atualmente, o delegado-geral da Polícia Civil é o oficial Nilton Jorge Barreto Atayde. (DOL, com informações da RBA TV)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

SOCIEDADES SEM ESTADOS


TEXTO FORNECIDO NA UFOPA-UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ


As sociedades primitivas são sociedades sem Estado: esse julgamento de fato, em si mesmo correto, na verdade dissimula uma opinião, um juízo de valor, que prejudica então a possibilidade de constituir uma antropologia política como ciência rigorosa. O fato que se enuncia é que as sociedades primitivas estão privadas de alguma coisa – o Estado – que lhes é, tal como a qualquer outra sociedade - a nossa, por exemplo - necessária. Essas sociedades são, portanto, incompletas. Não são exatamente verdadeiras sociedades - não são policiadas -, e subsistem na experiência talvez dolorosa de uma falta - falta do Estado - que elas tentariam, sempre em vão, suprir. De um modo mais ou menos confuso, é isso mesmo o que dizem as crônicas dos viajantes ou os trabalhos dos pesquisadores: não se pode imaginar a sociedade sem o Estado, o Estado é o destino de toda sociedade. Descobrese nessa abordagem uma fixação etnocentrista tanto mais sólida quanto é ela, o mais das vezes, inconsciente. A referência imediata, espontânea 'é, se não aquilo que melhor se conhece, pelo menos o mais familiar. Cada um de nós traz efetivamente em si, interiorizada como a fé do crente, essa certeza de que a sociedade existe para o Estado. Como conceber então a própria existência das sociedades primitivas, a não ser como espécies à margem da história universal, sobrevivências anacrônicas de uma fase distante e, em todos os lugares há muito ultrapassada? Reconhece-se aqui a outra face do etnocentrismo, a convicção complementar de que a história tem um sentido único, de que toda sociedade está condenada a inscrever-se nessa história e a percorrer as suas etapas que, a partir da selvageria, conduzem à civilização “Todos os povos policiados foram selvagens”, escreve Raynal. Mas o registro de uma evolução evidente de forma alguma fundamenta uma doutrina que, relacionando arbitrariamente o estado de civilização com a civilização do Estado, designa este último como termo necessário atribuído a toda sociedade. Pode-se então indagar o que manteve os últimos povos ainda selvagens.
Por trás das formulações modernas, o velho evolucionismo permanece, na verdade, intacto. Mais delicado para se dissimular na linguagem da antropologia, e não mais na da filosofia, ele aflora contudo ao nível das categorias que pretendem ser científicas. Já se percebeu que, quase sempre, as sociedades arcaicas são determinadas de maneira negativa, sob o critério da falta: sociedades sem Estado, sociedades sem escrita, sociedades sem história. Mostra-se como sendo da mesma ordem a determinação dessas Sociedades no plano econômico: sociedades de economia de subsistência. Se, com isso, quisermos significar que as sociedades primitivas desconhecem a economia de mercado onde são escoados os excedentes da produção, nada afirmamos de modo estrito, e contentamo-nos em destacar mais uma falta, sempre com referência ao nosso próprio mundo: essas sociedades que não possuem Estado, escrita, história, também não dispõem de mercado. Todavia, pode objetar o bom senso, para que serve um mercado, se não há excedentes? Ora a idéia de economia de subsistência contém em si mesma a afirmação de que, se as sociedades primitivas não produzem excedentes, é porque são incapazes de fazê-lo, inteiramente ocupadas que estariam em produzir o mínimo necessário à sobrevivência, à subsistência. Imagem antiga, sempre eficaz, da miséria dos selvagens. E, a fim de explicar essa incapacidade das sociedades primitivas de sair da estagnação de viver o dia-a-dia, dessa alienação permanente na busca de alimentos, invocam-se o subequipamento técnico, a inferioridade tecnológica.
O que ocorre na realidade? Se entendermos por técnica o conjunto dos processos de que se munem os homens, não para assegurarem o domínio absoluto da natureza (isso só vale para o nosso mundo em seu insano projeto cartesiano cujas conseqüências ecológicas mal começamos a medir), mas para garantir um domínio do meio natural adaptado e relativo às suas necessidades, então não mais podemos falar em inferioridade técnica das sociedades primitivas: elas demonstram uma capacidade de satisfazer suas necessidades pelo menos igual àquela de que se orgulha a sociedade industrial e técnica. Isso equivale a dizer que todo grupo humano chega a exercer, pela força, o mínimo necessário de dominação sobre o meio que ocupa. Até agora não se tem conhecimento de nenhuma sociedade que se haja estabelecido, salvo por meio de coação e violência exterior, sobre um espaço natural impossível de dominar: ou ela desaparece ou muda de território. O que surpreende nos esquimós e nos australianos é justamente a riqueza, a imaginação e o refinamento da atividade técnica, o poder de invenção e de eficácia demonstrada pelas ferramentas utilizadas por esses povos. Basta fazer uma visita aos museus etnográficos: o rigor de fabricação dos instrumentos da vida cotidiana faz praticamente de cada modesto utensílio uma obra de arte. Não existe portanto hierarquia no campo da técnica, nem tecnologia superior ou inferior; só se pode medir um equipamento tecnológico pela sua capacidade de satisfazer, num determinado meio, as necessidades da sociedade. E, sob esse ponto de vista, não parece de forma alguma que as sociedades primitivas se mostraram incapazes de se proporcionar os meios de realizar esse fim. Essa potência de inovação técnica testemunhada pelas sociedades primitivas desdobra-se sem dúvida no tempo. Nada é fornecido de uma só vez, há sempre o paciente trabalho de observação e de pesquisa, a longa sucessão de ensaios, erros, fracassos e êxitos. Os historiadores da pré-história nos dão notícia de quantos milênios foram necessários para que os homens do paleolítico substituíssem os grosseiros bifaces pelas admiráveis lâminas do solutreano. Segundo outro ponto de vista, observa-se que a descoberta da agricultura e a domesticação das plantas são quase contemporâneas na América e no velho Mundo. E impõe-se constatar que os ameríndios em nada se mostram inferiores, muito pelo contrário, no que se refere à arte de selecionar e diferençar, múltiplas variedades de plantas foram úteis.
Detenhamo-nos por um momento no funesto interesse que levou os índios a quererem instrumentos metálicos. Com efeito, ele está diretamente relacionado com a questão da economia nas sociedades primitivas, mas não da maneira que se poderia acreditar. Essas sociedades estariam, segundo se afirma, condenadas à economia de subsistência em razão da inferioridade tecnológica. Como acabamos de ver, esse argumento não tem fundamento em direito nem em fato. Nem em direito, porque não existe escala abstrata pela qual se possam medir as "intensidades" tecnológicas: o equipamento técnico de uma sociedade não édiretamente comparável àquele de uma sociedade diferente, e de nada serve opor o fuzil ao arco. Nem em fato, uma vez que a arqueologia, a etnografia, a botânica etc. nos demonstram precisamente a potência de rentabilidade e de eficácia das tecnologias selvagens. Por conseguinte, se as sociedades primitivas repousam numa economia de subsistência, não é por lhes faltar uma habilidade técnica. A verdadeira pergunta que se deve formular é a seguinte: a economia dessas sociedades é realmente uma economia de subsistência? Precisando o sentido das expressões: se por economia de subsistência não nos contentamos em entender economia sem mercado e sem excedentes - o que seria um simples truísmo, o puro registro da diferença - então com efeito se afirma que esse tipo de economia permite à sociedade que ele funda tão somente subsistir; afirma-se que essa sociedade mobiliza permanentemente a totalidade de suas forças produtivas para fornecer a seus membros o mínimo necessário à subsistência.
Existe aí um preconceito tenaz, curiosamente co-extensivo à idéia contraditória e não menos corrente de que o selvagem é preguiçoso. Se em nossa linguagem popular diz-se "trabalhar como um negro", na América do Sul, por outro lado, diz-se "vagabundo como um índio". Então, das duas uma: ou o homem das sociedades primitivas, americanas e outras, vive em economia de subsistência e passa quase todo o seu tempo à procura de alimento, ou não vive em economia de subsistência e pode portanto se proporcionar lazeres prolongados fumando em sua rede. Isso chocou claramente os primeiros observadores europeus dos índios do Brasil. Grande era a sua reprovação ao constatarem que latagões cheios de saúde preferiam se empetecar, como mulheres, de pinturas e plumas em vez de regarem com suor as suas áreas cultivadas. Tratava-se, portanto, de povos que ignoravam deliberadamente que é preciso ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Isso era demais, e não durou muito: rapidamente se puseram os índios para trabalhar, e eles começaram a morrer. Dois axiomas, com efeito, parecem guiar a marcha da civilização ocidental desde a sua aurora: o primeiro estabelece que a verdadeira sociedade se desenvolve sob a sombra protetora do Estado; o segundo enuncia um imperativo categórico: é necessário trabalhar. Os índios, efetivamente, só dedicavam pouco tempo àquilo a que damos o nome de trabalho. E apesar disso não morriam de fome. As crônicas da época são unânimes em descrever a bela aparência dos adultos, a boa saúde das numerosas crianças, a abundância e variedade dos recursos alimentares. Por conseguinte, a economia de subsistência das tribos indígenas não implicava de forma alguma a angustiosa busca, em tempo integral, de alimento. Uma economia de subsistência é, pois, compatível com uma considerável limitação do tempo dedicado às atividades produtivas. Era o que se verificava com as tribos sul americanas de agricultores, como os Tupi-Guarani, cuja ociosidade irritava igualmente os franceses e os portugueses. A vida econômica desses índios baseava-se sobretudo na agricultura, e, acessoriamente, na caça, na pesca e na coleta. Uma mesma área de cultivo era utilizada por um período ininterrupto de quatro a seis anos. Em seguida, era abandonada, por esgotar-se o solo ou, mais provavelmente, em virtude da invasão do espaço destacado por uma vegetação parasitária de difícil eliminação. O grosso do trabalho, efetuado pelos homens, consistia em arrotear, por meio de um machado de pedra e com auxílio do fogo, a superfície necessária. Essa tarefa, realizada no fim da estação das chuvas, mobilizava os homens durante um ou dois meses. Quase todo o resto do processo agrícola - plantar, mondar, colher -, em conformidade com a divisão sexual do trabalho, era executado pelas mulheres. Donde a seguinte conclusão feliz: os homens, isto é, a metade da população, trabalhavam cerca de dois meses em cada quatro anos! O resto do tempo era passado em ocupações encaradas não como trabalho, mas como prazer: caça, pesca; festas e bebedeiras; a satisfazer, enfim, o seu gosto apaixonado pela guerra.
Ora, esses dados maciços, qualitativos, impressionistas, encontram uma brilhante confirmação em pesquisas recentes - algumas em curso - de caráter rigorosamente demonstrativo, já que medem o tempo de trabalho nas sociedades com economia de subsistência. Quer se trate de caçadores-nômades do deserto do Kalahari ou de agricultores sedentários ameríndios, os números obtidos revelam uma divisão média do tempo diário de trabalho inferior a quatro horas por dia. Jacques Lizot, que vive há muitos anos entre os índios Yanomami da Amazônia venezuelana, estabeleceu, cronometricamente, que a duração média do tempo, que os adultos dedicam todos os dias ao trabalho, incluídas todas as atividades, mal ultrapassa três horas. Não chegamos, pessoalmente, a realizar cálculos desse gênero entre os Guayaki, caçadores nômades da floresta paraguaia. Mas pode-se assegurar que os índios - homens e mulheres – passavam pelo menos a metade do dia em quase completa ociosidade, uma vez que a caça e a coleta se efetuavam, e não todos os dias, entre, mais ou menos, 6 e 11 horas da manhã. É provável que estudos desse gênero, levados a efeito entre as últimas populações primitivas, resultassem - consideradas as diferenças ecológicas - em resultados muito parecidos.
Estamos portanto bem longe da miserabilidade que envolve a idéia de economia de subsistência. Não só o homem das sociedades primitivas não está de forma alguma sujeito a essa existência animal que seja a busca permanente para assegurar a existência, como é ao preço de um tempo de atividade notavelmente curto que ele alcança - e até ultrapassa -. esse resultado. Isso significa que as sociedades primitivas dispõem, se assim o desejarem, de todo o tempo necessário para aumentar a produção dos bens materiais. O bom senso questiona: por que razão os homens dessas sociedades quereriam trabalhar e produzir mais, quando três ou quatro horas diárias de atividade são suficientes para garantir as necessidades do grupo? De que lhes serviria isso? Qual seria a utilidade dos excedentes assim acumulados? Qual seria o destino desses excedentes? É sempre pela força que os homens trabalham além das suas necessidades. E exatamente essa força está ausente do mundo primitivo: a ausência dessa força externa define inclusive a natureza das sociedades primitivas. Podemos admitir, a partir de agora, para qualificar a organização econômica dessas sociedades, a expressão economia de subsistência, desde que não a entendamos no sentido da necessidade de um defeito, de uma incapacidade inerentes a esse tipo de sociedade e a sua tecnologia, mas, ao contrário, no sentido da recusa de um excesso inútil da vontade de restringir a atividade produtiva à satisfação das necessidades. E nada mais. Tanto mais que, para examinar as coisas mais de perto, há efetivamente produção de excedentes nas sociedades primitivas: a quantidade de plantas cultivadas produzidas (mandioca, milho, fumo, algodão etc.) sempre ultrapassa o que é necessário ao consumo do grupo, estando essa produção suplementar, evidentemente incluída no tempo normal de trabalho. Esse excesso, obtido sem sobre-trabalho, é consumido, consumado, com finalidades propriamente políticas, por ocasião de festas, convites, visita de estrangeiros etc. A vantagem de um machado de metal sobre um machado de pedra é evidente demais para que nela nos detenhamos: podemos, no mesmo tempo, realizar com o primeiro talvez dez vezes mais trabalho que com o segundo; ou então executar o mesmo trabalho num tempo dez vezes menor. E, ao descobrirem a superioridade produtiva dos machados dos homens brancos, os índios os desejaram, não para produzirem mais no mesmo tempo, mas para produzirem a mesma coisa num tempo dez vezes mais curto. Mas foi exatamente o contrário que se verificou, pois, com os machados metálicos, irromperam no mundo primitivo dos índios a violência, a força, o poder, impostos aos selvagens pelos civilizados recém-chegados.
As sociedades primitivas são, como escreve Lizot ao propósito dos Yanomami, sociedades de recusa do trabalho: "O desprezo dos Yanomami pelo trabalho e o seu desinteresse por um progresso tecnológico autônomo é certo”1 Primeiras sociedades do lazer, primeiras sociedades da abundância, na justa e feliz expressão de Marshall Sahlins. Se o projeto de constituir uma antropologia econômica das sociedades primitivas como disciplina autônoma tem um sentido, este não pode advir da simples consideração da vida econômica dessas sociedades: permanecemos numa etnologia da descrição, na descrição de uma dimensão não-autônoma da vida social primitiva. É muito antes, quando essa dimensão do "fato social total" se constitui como esfera autônoma, que a idéia de uma antropologia econômica parece fundamentada: quando desaparece a recusa ao trabalho, quando o sentido do lazer é substituído pelo gosto da acumulação, quando, em síntese, surge no corpo social essa força externa que evocamos antes, essa força sem a qual os selvagens não renunciariam ao lazer e que destrói a sociedade como sociedade primitiva; essa força é a potência de sujeitar, é a capacidade de coerção, é o poder político. Mas, em conseqüência disso, a antropologia deixa desde então de ser econômica, e perde de alguma forma o seu objeto no próprio instante em que crê agarrá-lo, e a economia torna-se política. Para o homem das sociedades primitivas, a atividade de produção é exatamente medida, delimitada pelas necessidades que têm de ser satisfeitas, estando implícito que se trata essencialmente das necessidades energéticas: a produção é projetada sobre a reconstituição do estoque de energia gasto. Em outros termos, é a vida como natureza que - com exceção dos bens consumidos socialmente por ocasião das festas - fundamenta e determina a quantidade de tempo dedicado a reproduzi-Ia. Isso equivale a dizer que, uma vez assegurada a satisfação global das necessidades energéticas, nada poderia estimular a sociedade primitiva a desejar produzir mais, isto é, a alienar o seu tempo num trabalho sem finalidade, enquanto esse tempo é disponível para a ociosidade, o jogo, a guerra ou a festa. Quais as condições em que se podem transformar essa relação entre o homem primitivo e a atividade de produção? Sob que condições essa atividade se atribui uma finalidade diferente da satisfação das necessidades energéticas? Temos aí levantada a questão da origem do trabalho como trabalho alienado.
Na sociedade primitiva, sociedade essencialmente igualitária, os homens são senhores de sua atividade, senhores da circulação dos produtos dessa atividade: eles só agem para si próprios, mesmo se a lei de troca dos bens só mediatiza a relação direta do homem com o seu produto. Tudo se desarruma, por conseguinte, quando a atividade de produção se afasta do seu objetivo inicial quando em vez de produzir apenas para si mesmo, o homem primitivo produz também para os outros, sem troca e sem reciprocidade. Só então é que podemos falar em trabalho: quando a regra igualitária de troca deixa de constituir o "código civil” da sociedade, quando a atividade de produção visa a satisfazer as necessidades dos outros, quando a regra de troca é substituída pelo terror da dívida. Na verdade, é exatamente aí que se inscreve a diferença entre o selvagem amazônico e o índio do império inca. O primeiro produz, em suma, para viver, enquanto o segundo trabalha, de mais a mais, para fazer com que outros vivam – os que não trabalham, os senhores que lhe dizem: cumpre que tu pagues o que nos deves; impõe-se que tu eternamente saldes a dívida que conosco contraíste.
Quando, na sociedade primitiva, o econômico se deixa identificar como campo autônomo e definido, quando a atividade de produção se transforma em trabalho alienado, contabilizado e imposto por aqueles que vão tirar proveito dos frutos desse trabalho, é sinal de que a sociedade não é mais primitiva, tornou-se uma sociedade dividida em dominantes e dominados, em senhores e súditos, e de que parou de exorcizar aquilo que está destinado a matá-la: o poder e o respeito ao poder. A principal divisão da sociedade, aquela que serve de base a todas as outras, inclusive sem dúvida a divisão do trabalho, é a nova disposição vertical entre a base e o cume, é o grande corte político entre detentores da força, seja ela guerreira ou religiosa, e sujeitados a essa força. A relação política do poder precede e fundamenta a relação econômica de exploração. Antes de ser econômica, a alienação é política, o poder antecede o trabalho, o econômico é uma derivação do político, a emergência do Estado determina o aparecimento das classes.
Inacabamento, incompletude, falta: não é absolutamente desse lado que se revela a natureza das sociedades primitivas. Ela impõe-se bem mais como positividade, como domínio do meio ambiente natural e do projeto social, como vontade livre de não deixar escapar para fora de seu ser nada que possa alterá-lo, corrompê-lo e dissolvê-lo. É a isso que nos devemos prender com firmeza: as sociedades primitivas não são os embriões retardatários das sociedades ulteriores, dos corpos sociais de decolagem "normal" interrompida por alguma estranha doença; elas não se encontram no ponto de partida de uma lógica histórica que conduz diretamente ao termo inscrito de antemão, mas conhecido apenas a posteriori, o nosso próprio sistema social. (Se a história é essa lógica, como podem ainda existir sociedades primitivas?) Tudo isso se traduz, no plano da vida econômica, pela recusa das sociedades primitivas em se deixarem tragar pelo trabalho e pela produção, através da decisão de limitar os estoques às necessidades sociopolíticas, da impossibilidade intrínseca da concorrência – de que serviria, numa sociedade primitiva, ser rico entre os pobres? – em suma, pela proibição, não formulada ainda que dita, da desigualdade.
O que é que determina que numa sociedade primitiva a economia não seja política? Isso se dá, como se vê, devido ao fato da economia nela não funcionar de maneira autônoma. Poder-se-ia dizer que, nesse sentido, as sociedades primitivas são sociedades sem economia por recusarem a economia. Mas deve-se então classificar também como ausência a existência do político nessas sociedades? É preciso admitir que, por se tratar de sociedades "sem lei e sem rei " o campo político lhes falta? E não tornaríamos dessa forma a cair na rotina clássica de um etnocentrismo para o qual a falta assinala em todos os níveis as diferentes sociedades?
Abordemos pois a questão do político nas sociedades primitivas. Não se trata simplesmente de um problema "interessante", de um tema reservado apenas à reflexão dos especialistas, pois a etnologia ganha as dimensões de uma teoria geral (a construir) da sociedade. A extrema diversidade dos tipos de organização social, a abundância, no tempo e no espaço, de sociedades dessemelhantes, não impedem entretanto a possibilidade de uma ordem na descontinuidade, a possibilidade de uma redução dessa multiplicidade infinita de diferenças. Redução maciça, uma vez que a história só nos oferece, de fato, dois tipos de sociedade absolutamente irredutíveis um ao outro, duas macro-classes, cada uma das quais reúne em si sociedades que, além de suas diferenças, têm em comum alguma coisa de fundamental. Existem por um lado as sociedades primitivas ou sociedades sem Estado; e, por outro lado, as sociedades com Estado. É a presença ou a ausência da formação estatal (suscetível de assumir múltiplas formas) que fornece a toda sociedade o seu elo lógico, que traça uma linha de irreversível descontinuidade entre as sociedades. O aparecimento do Estado realizou a grande divisão tipológica entre selvagens e civilizados, e traçou uma indelével linha de separação além da qual tudo mudou, pois o Tempo se torna História. Tem-se freqüentemente descoberto - e com razão - no movimento da história mundial duas acelerações decisivas do seu ritmo. O motor da primeira foi o que se denomina a revolução neolítica (domesticação dos animais, agricultura, descoberta das artes da tecelagem e da cerâmica, sedentarização conseqüente dos grupos humanos etc.). Estamos ainda vivendo, e cada vez mais (se nos é lícita a expressão) no prolongamento da segunda aceleração, a revolução industrial do século XIX.
Evidentemente não há dúvida de que a linha de separação neolítica alterou de modo considerável as condições de existência material dos povos outrora paleolíticos. Mas essa transformação teria sido tão radical a ponto de afetar em sua mais extrema profundidade a essência das sociedades? Pode-se falar em um funcionamento diferente dos sistemas sociais, conforme sejam eles pré-neolíticos ou pós-neolíticos? A experiência etnográfica indica antes o contrário. A passagem do nomadismo à sedentarização seria a conseqüência mais rica da revolução neolítica, no sentido de que permitiu, pela concentração de uma população estabilizada, a formação das cidades e, mais adiante, dos aparelhos de Estado. Mas determina-se que, ao fazer isso, todo "complexo" tecnocultural desprovido de agricultura está necessariamente fadado ao nomadismo. Eis o que é etnograficamente inexato: uma economia de caça, pesca e coleta não exige obrigatoriamente um modo de vida nômade. Vários exemplos, tanto na América como em outros lugares, o atestam: a ausência de agricultura é compatível com o sedentarismo. Isso permitiria supor, então, que, se certos povos não chegaram a possuir agricultura, no momento em que ela era ecologicamente possível, não foi por incapacidade, atraso tecnológico, inferioridade cultural, porém, mais simplesmente, porque dela não tinham necessidade.
A história pós-colombiana da América apresenta o caso de populações de agricultores sedentários que, sob o efeito de uma revolução técnica (conquista do cavalo e, acessoriamente, das armas de fogo), preferiram abandonar a agricultura para se dedicarem de maneira quase exclusiva à caça, cujo rendimento era multiplicado pela mobilidade dez vezes maior proporcionada pelo cavalo. A partir do momento em que se tornaram eqüestres, as tribos das planícies da América do Norte ou as do Chaco, na América do Sul, intensificaram e estenderam os seus deslocamentos: contudo, estamos aí bem longe do nomadismo em que recaem geralmente os bandos de caçadores-coletores (como os Guayaki do Paraguai), e o abandono da agricultura não se traduziu, para os grupos em questão, pela dispersão demográfica, nem pela transformação da organização social anterior. Que nos é ensinado por esse movimento de maioria de sociedades que passaram da caça à agricultura e pelo movimento inverso, de algumas outras, que, partindo da agricultura, chegaram à caça? É que isso parece efetivar-se sem que ocorra qualquer mudança na natureza da sociedade; que esta permanece idêntica a si mesma enquanto se transformam apenas as suas condições de existência material; que a revolução neolítica, se por um lado afetou consideravelmente, e sem dúvida facilitou, a vida material dos grupos humanos de então, por outro lado não acarreta de maneira automática uma perturbação da ordem social. Em outros termos, e no que tange às sociedades primitivas, a mudança no plano do que o marxismo chama a infra-estrutura econômica não determina de modo algum o seu reflexo conseqüente a superestrutura política, já que esta surge independente da sua base material. O continente americano ilustra claramente a autonomia respectiva da economia e da sociedade. Grupos de caçadores-pescadores-coletores, nômades ou não, apresentam as mesmas propriedades sociopolíticas que os seus vizinhos agricultores sedentários: "infraestruturas" diferentes, "superestrutura” idêntica. Inversamente, as sociedades mesoamericanas – sociedades imperiais, sociedades com Estado - eram tributárias de uma agricultura que, mais intensiva que alhures, não ficava muito longe, do ponto de vista de seu nível técnico, da agricultura das tribos "selvagens" da Floresta Tropical: "infraestrutura" idêntica, "superestruturas" diferentes, uma vez que, num dos casos, se trata de sociedades sem Estado, e, no outro, de Estados acabados.
É então a ruptura política - e não a mudança econômica - que é decisiva. A verdadeira revolução, na proto-história da humanidade, não é a do neolítico, uma vez que ela pode muito bem deixar intacta a antiga organização social, mas a revolução política: é essa aparição misteriosa, irreversível, mortal para as sociedades primitivas, que conhecemos sob o nome de Estado. E caso haja desejo de conservar os conceitos marxistas de infra-estrutura e de superestrutura, então talvez seja necessário reconhecer que a infra-estrutura é o político e que a superestrutura é o econômico. Somente uma convulsão estrutural, abissal pode transformar, destruindo-a como tal, a sociedade primitiva: aquilo que faz surgir em seu seio, ou do exterior, aquilo cuja ausência mesma define essa sociedade, a autoridade da hierarquia, a relação de poder, a dominação dos homens, o Estado. Seria vão procurar sua origem numa hipotética modificação das relações de produção na sociedade primitiva, modificação que, dividindo pouco a pouco a sociedade em ricos e pobres, exploradores e explorados, conduziria mecanicamente à instauração de um órgão de exercício do poder dos primeiros sobre os segundos, ao aparecimento do Estado.
Hipotética, essa modificação da base econômica é ainda mais impossível. Para que, numa dada sociedade, o regime de produção se transforme no sentido de uma maior imensidade de trabalho que visa a uma produção acrescida de bens, é necessário ou que os homens dessa sociedade desejem essa transformação de seu gênero de vida tradicional, ou que, mesmo não a desejando, eles se vejam obrigados por uma violência externa. No segundo caso, nada advém da própria sociedade, que sofre a agressão de uma força externa em beneficio da qual o regime de produção vai modificar-se: trabalhar e produzir mais para satisfazer as necessidades dos novos senhores do poder. A opressão política determina, chama, permite a exploração. Mas a evocação de uma tal "encenação" não serve de nada, uma vez que ela coloca uma origem externa, contingente, imediata, da violência estatal, e não a lenta realização das condições internas, socioeconômicas, de seu aparecimento. O Estado, dizem, é o instrumento que permite à classe dominante exercer sua dominação violenta sobre as classes dominadas. Que seja. Para que haja o aparecimento do Estado, é necessário pois, que exista antes divisão da sociedade em classes sociais antagônicas, ligadas entre si por relação de exploração. Por conseguinte, aestrutura da sociedade - a divisão em classes - deveria preceder a emergência da máquinaestatal. Observemos de passagem a fragilidade dessa concepção puramente instrumental do Estado. Se a sociedade é organizada por opressores capazes de explorar os oprimidos, é que essa capacidade de impor a alienação repousa sobre o uso de uma força, isto é, sobre o que faz da própria substância do Estado "monopólio da violência física legítima". A que necessidade responderia desde então a existência de um Estado, uma vez que sua essência - a violência - é imanente à divisão da sociedade, já que é, nesse sentido, dada antecipadamente na opressão exercida por um grupo social sobre os outros? Ele não seria senão o inútil órgão de uma função preenchida antes e alhures.
Articular o aparecimento da máquina estatal com a transformação da estrutura social leva somente a recuar o problema desse aparecimento. É então necessário perguntar por que se produz, no seio de uma sociedade primitiva, isto é, de uma sociedade não-dividida, a nova divisão dos homens em dominantes e dominados. Qual é o motor dessa transformação maior que culminaria na instalação do Estado? Sua emergência sancionaria a legitimidade de uma propriedade privada previamente surgida, e o Estado seria o representante e o protetor dos proprietários. Muito bem. Mas por que se teria o surgimento da propriedade privada num tipo de sociedade que ignora, por recusá-la, a propriedade? Por que alguns desejaram proclamar um dia: isto é meu, e como os outros deixaram que se estabelecesse assim o germe daquilo que a sociedade primitiva ignora, a autoridade, a opressão, o Estado? O que hoje se sabe das sociedades primitivas não permite mais procurar no nível econômico a origem do político. Não é nesse solo que se enraíza a árvore genealógica do Estado. Nada existe, no funcionamento econômico de uma sociedade primitiva, de uma sociedade sem Estado, que permita a introdução da diferença entre mais ricos e mais pobres, pois aí ninguém tem o estranho desejo de fazer, possuir, parecer mais que seu vizinho. A capacidade, igual entre todos, de satisfazer as necessidades materiais, e a troca de bens e serviços, que impede constantemente o acúmulo privado dos bens, tornam simplesmente impossível a eclosão de um tal desejo, desejo de posse que é de fato desejo de poder. A sociedade primitiva, primeira sociedade de abundância, não deixa nenhum espaço para o desejo de superabundância.
As sociedades primitivas são sociedades sem Estado porque, nelas, o Estado é impossível. E entretanto todos os povos civilizados foram primeiramente selvagens: o que fez com que o Estado deixasse de ser impossível? Por que os povos cessaram de ser selvagens? Que formidável acontecimento, que revolução permitiram o surgimento da figura do Déspota, daquele que comanda os que obedecem? De onde provém o poder político? Mistério, talvez provisório, da origem.
Se parece ainda possível determinar as condições de aparecimento do Estado, podemos em troca precisar as condições de seu não-aparecimento, e os textos que foram aqui reunidos tentam cercar o espaço do político nas sociedades sem Estado. Sem fé, sem lei sem rei: o que no século XVI o Ocidente dizia dos índios pode estender-se sem dificuldade a toda sociedade primitiva. Este pode ser mesmo o critério de distinção: uma sociedade é primitiva se nela falta o rei, como fonte legítima da lei, isto é, a máquina estatal. Inversamente, toda sociedade não-primitiva é uma sociedade de Estado: pouco importa o regime socioeconômico em vigor. É por isso que podemos reagrupar numa mesma classe os grandes despotismos arcaicos – reis, imperadores da China ou dos Andes, faraós – as monarquias mais recentes - O Estado sou eu - ou os sistemas sociais contemporâneos, quer o capitalismo seja liberal corno na Europa ocidental, ou de Estado como alhures... Portanto, a tribo não possui um rei, mas um chefe que não é chefe de Estado. O que significa isso? Simplesmente que o chefe não dispõe de nenhuma autoridade, de nenhum poder de coerção, de nenhum meio de dar urna ordem. O chefe não é um comandante, as pessoas da tribo não têm nenhum dever de obediência. O espaço da chefia não é o lugar do poder, e a figura (mal denominada) do "chefe" selvagem não prefigura em nada aquela de um futuro déspota. Certamente não é da chefia primitiva que se pode deduzir o aparelho estatal em geral.
Em que o chefe da tribo não prefigura o chefe de Estado? Em que uma tal antecipação do Estado é impossível no mundo dos selvagens? Essa descontinuidade radical - que torna impensável uma passagem progressiva da chefia primitiva à máquina estatal - se funda naturalmente nessa relação de exclusão que coloca o poder político no exterior da chefia. O que se deve imaginar é um chefe sem poder, uma instituição, a chefia, estranha à sua essência, a autoridade. As funções do chefe, tal como foram analisadas acima, mostram perfeitamente que não se trata de funções de autoridade. Essencialmente encarregado de eliminar conflitos que podem surgir entre indivíduos, famílias e linhagens etc., ele só dispõe, para restabelecer a ordem e a concórdia, doprestÍgio que lhe reconhece à sociedade. Mas evidentemente prestígio não significa poder, e os meios que o chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se ao uso exclusivo da palavra: não para arbitrar entre as partes opostas, pois o chefe não é um juiz e não pode se permitir tomar partido por um ou por outro, mas para, armado apenas de sua eloqüência, tentar persuadir as pessoas da necessidade de se apaziguar, de renunciar às injúrias, de imitar os ancestrais que sempre viveram no bom entendimento. Empreendimento cuja vitória nunca é certa, aposta sempre incerta, pois a palavra do chefe não tem força de lei. Se o esforço de persuasão fracassa, então o conflito corre o risco de se resolver pela violência e o prestígio do chefe pode muito bem não sobreviver a isso, uma vez que ele deu provas de sua impotência em realizar o que se espera dele.
Em função de que a tribo estima que tal homem é digno de ser um chefe? No fim das contas, somente em função de sua competência "técnica": dons oratórios, habilidade como caçador, capacidade de coordenar as atividades guerreiras, ofensivas ou defensivas. E, de forma alguma a sociedade deixa o chefe ir além desse limite técnico, ela jamais deixa uma superioridade técnica se transformar em autoridade política. O chefe está a serviço da sociedade, é a sociedade em si mesma - verdadeiro lugar do poder - que exerce como tal sua autoridade sobre o chefe. É por isso que é impossível para o chefe alterar essa relação em seu proveito, colocar a sociedade a seu próprio serviço, exercer sobre a tribo o que denominamos poder: a sociedade nunca tolerará que seu chefe se transforme em déspota. Grande vigilância. de certo modo, a que a tribo submete o chefe, prisioneiro em um espaço do qual ela não o deixa sair. É possível que um chefe deseje ser chefe? Que ele queira substituir o serviço e o interesse do grupo pela realização do seu próprio desejo? Que a satisfação do seu interesse pessoal ultrapasse a submissão ao projeto coletivo? Em virtude do estreito controle a que a sociedade - por sua natureza de sociedade primitiva e não, é claro, por cuidado consciente e deliberado de vigilância - submete, como todo o resto, a prática do líder, raros são os casos de chefes colocados em situação de transgredir a lei primitiva: tu não és mais que os outros. Raros certamente, mas não inexistentes: acontece às vezes que um chefe queira bancar o chefe, e não por cálculo maquiavélico, mas antes porque definitivamente ele não tem escolha, não pode fazer de outro modo. Expliquemonos. Em regra geral, um chefe não tenta (ele nem mesmo sonha) subverter a relação normal (conforme às normas) que mantém com seu grupo, subversão que, de servidor da tribo, faria dele o senhor. Essa relação normal, o grande cacique Alaykin, chefe guerreiro de uma tribo Abipione do Chaco argentino, a definiu perfeitamente na resposta que deu a um oficial espanhol que queria convencê-lo ~ levar sua tribo a uma guerra que ela não desejava: "Os Abipiones, por um costume recebido de seus ancestrais, fazem tudo de acordo com sua vontade e não de acordo com a do seu cacique. Cabe a mim dirigi-los, mas eu não poderia prejudicar nenhum dos meus sem prejudicar a mim mesmo; se eu utilizasse as ordens ou a força com meus companheiros, logo eles me dariam as costas. Prefiro ser amado e não temido por eles” E, não duvidemos, a maior parte dos chefes indígenas teria sustentado o mesmo discurso.
Existem entretanto exceções quase sempre ligadas à guerra. Sabemos com efeito que a preparação e a condução de uma expedição militar são as únicas circunstâncias em que o chefe pode exercer um mínimo de autoridade, fundada somente, repitamo-lo, em sua competência técnica de guerrear. Uma vez as coisas terminadas, e qualquer que seja o resultado do combate, o chefe guerreiro volta a ser um chefe sem poder, e em nenhuma hipótese o prestígio decorrente da vitória se transforma em autoridade. Tudo se passa precisamente sobre essa separação mantida pela sociedade entre poder e prestígio, entre a glória de um guerreiro vencedor e o comando que lhe é proibido exercer. A fonte mais apta para saciar a sede de prestígio de um guerreiro é a guerra. Ao mesmo tempo, um chefe cujo prestígio está ligado à guerra não pode conservá-lo e reforçá-lo senão na guerra: é uma espécie de fuga impulsiva para a frente que o faz querer organizar sem cessar expedições guerreiras das quais ele conta retirar os benefícios (simbólicos) aferentes à vitória. Enquanto seu desejo de guerra corresponder à vontade geral da tribo, em particular dos jovens para os quais a guerra é também o principal meio de adquirir prestígio, e enquanto a vontade do chefe não ultrapassar a da sociedade, as relações habituais entre o segundo e o primeiro manter-se-ão inalteradas. Mas o risco de uma ultrapassagem do desejo da sociedade pelo desejo do seu chefe, o risco para ele de ir além do que deve, de sair do estreito limite determinado à sua função, é permanente. O chefe às vezes aceita corrê-lo, tenta impor à tribo seu projeto individual tenta substituir o interesse coletivo por seu interesse pessoal. Alterando a relação normal que determina o líder como meio a serviço de um fim socialmente definido, ele tenta fazer da sociedade o meio de realizar um fim puramente privado:a tribo a serviço do chefe, e não mais o chefe a serviço da tribo. Se isso funcionasse, então teríamos aí a terra natal do poder político, como coerção e violência, teríamos a primeira encarnação da figura mínima do Estado. Mas isso nunca funciona.
No belíssimo relato dos vinte anos que passou entre os Yanomami,2 Helena Valero fala longamente de seu primeiro marido, o líder guerreiro Fousiwe. Sua história ilustra perfeitamente o destino da chefia selvagem quando ela é, por força das coisas, levada a transgredir a lei da sociedade primitiva que, verdadeiro lugar do poder, recusa cedê-lo, recusa delegá-lo. Fousiwe foi então reconhecido como "chefe" por sua tribo em virtude do prestígio que adquiriu como organizador e condutor de ataques vitoriosos contra os grupos inimigos. Ele dirige conseqüentemente guerras desejadas por sua tribo, coloca à disposição de seu grupo sua competência técnica de homem de guerra, sua coragem, seu dinamismo, e é o instrumento eficaz de sua sociedade. Mas a infelicidade do guerreiro selvagem é que o prestígio adquirido na guerra se perde rapidamente, se não se renovam constantemente as fontes. A tribo, para a qual o chefe é apenas “um instrumento apto a realizar sua vontade”, esquece facilmente as vitórias passadas do chefe. Para ele, nada é definitivamente adquirido e, se ele quer devolver às pessoas a memória tão facilmente perdida de seu prestígio e de sua glória, não é apenas exaltando suas antigas façanhas que o conseguirá, mas antes suscitando a ocasião de novos feitos bélicos. Um guerreiro não tem escolha: ele está condenado a desejar a guerra. É exatamente aí que se dá o limite do consenso que o reconhece como chefe. Se seu desejo de guerra coincide com o desejo de guerra da sociedade, esta continua a segui-lo. Mas se o desejo de guerra do chefe tenta se estabelecer sobre uma sociedade animada pelo desejo de paz - com feito, nenhuma sociedade deseja sempre guerrear -, então a relação entre o chefe e a tribo se modifica, o líder tenta utilizar a sociedade como instrumento de seu objetivo individual, como meio de sua meta pessoal. Ora, não o esqueçamos, o chefe primitivo é um chefe sem poder: como poderia ele impor a lei de seu desejo a uma sociedade que o recusa? Ele é ao mesmo tempo prisioneiro de seu desejo de prestígio e de sua impotência em realizá-lo. O que pode então ocorrer? O guerreiro está destinado a solidão, a esse combate duvidoso que só o conduz à morte. Tal foi o destino do guerreiro sul-americano Fouiswe. Por ter querido impor aos seus uma guerra que eles não desejavam, foi abandonado por sua tribo. Só restava lutar sozinho nessa guerra, e ele morreu crivado de flechas. A morte é o destino do guerreiro, pois a sociedade primitiva é tal que não permite que a vontade de poder substitua o desejo de prestígio. Ou, em outros termos, na sociedade primitiva, o chefe, como possibilidade de vontade de poder, está antecipadamente condenado à morte. O poder político isolado é impossível na sociedade primitiva; nela não há lugar, não há vazio que o Estado pudesse preencher. Menos trágica em sua conclusão, mas muito semelhante no seu desenvolvimento é a história de um outro líder indígena, infinitamente mais célebre que o obscuro guerreiro amazônico, uma vez que se trata do famoso chefe apache Gerônimo. A leitura de suas Memórias3 , se bem que bastante futilmente recolhidas, se revela muito instrutiva. Gerônimo não passava de um jovem guerreiro como os outros quando os soldados mexicanos atacaram o acampamento de sua tribo e massacraram mulheres e crianças. A família de Gerônimo foi inteiramente exterminada. As diversas tribos Apache se aliaram para se vingar dos assassinos e Gerônimo foi encarregado de conduzir o combate. Sucesso completo para os Apache, que eliminaram a guarnição mexicana. O prestígio guerreiro de Gerônimo, principal artífice da vitória, foi imenso. E, desde esse momento, as coisas mudaram, alguma coisa se passou em Gerônimo, alguma coisa sucedeu. Pois se, para os Apache, satisfeitos com uma vitória que realizou perfeitamente seu desejo de vingança, o caso estava de alguma forma acabado, para Gerônimo, os rumores eram outros: ele queria continuar a se vingar dos mexicanos e considerou insuficiente a sangrenta derrota imposta aos soldados. Mas ele não pôde, é claro, atacar sozinho as aldeias mexicanas. Tentou pois, convencer os seus a fazer uma nova expedição. Inutilmente. A sociedade Apache, uma vez realizado o objetivo coletivo – a vingança – aspirava ao repouso. O objetivo de Gerônimo foi, portanto, um objetivo individual para cuja realização ele pretendeu arrastar a tribo. Ele quis fazer da tribo o instrumento de seu desejo, ao passo que antes ele foi, em função de sua competência como guerreiro, o instrumento da tribo. Evidentemente, os Apache jamais quiseram seguir Gerônimo, da mesma forma que os Yanomami se recusaram a seguir Fousiwe. Quando muito o chefe Apache conseguia (por vezes, ao preço de mentiras) convencer alguns jovens ávidos de glória e de saque. Para uma dessas expedições, o exército de Gerônimo, heróico e ridículo compunha-se de dois homens! Os Apache, que, em função das circunstâncias, aceitavam a liderança de Gerônimo em virtude da sua habilidade de combatente, sistematicamente lhe davam as costas quando ele queria fazer sua guerra pessoal. Gerônimo foi o último grande chefe de guerra norte-americano, que passou trinta anos de sua vida querendo "bancar o chefe" e não conseguiu...
A propriedade essencial (quer dizer, que toca a essência) da sociedade primitiva é exercer um poder absoluto e completo sobre tudo que a compõe, é interditar a autonomia de qualquer um dos subconjuntos que a constituem, é manter todos os movimentos internos, conscientes e inconscientes, que alimentam a vida social nos limites e na direção desejados pela sociedade. A tribo manifesta, entre outras (e pela violência se for necessário), sua vontade de preservar essa ordem social primitiva, interditando a emergência de um poder político individual, central e separado. Sociedade à qual nada escapa, que nada deixa sair de si mesma, pois todas as saídas estão fechadas. Sociedade que, por conseguinte, deveria eternamente se reproduzir sem que nada de substancial a afete através do tempo. Há contudo um campo que, parece, escapa, ao menos em parte, ao controle da sociedade: é um "fluxo" ao qual ela só parece poder impor uma "codificação" imperfeita. Trata-se do domínio demográfico, domínio regido por regras culturais, mas também por leis naturais, espaço de desdobramento de uma vida enraizada tanto no social quanto no biológico, lugar de uma "máquina" que funciona talvez segundo uma mecânica própria e que estaria, em seguida, fora de alcance da empresa social.
Sem sonhar em substituir um determinismo econômico por um determinismo demográfico, em inscrever nas causas - o crescimento demográfico - a necessidade dos efeitos - transformação da organização social - é entretanto necessário constatar, sobretudo na América, o peso sociológico do número da população, a capacidade que possui o aumento das densidades de abalar - não dissemos destruir a sociedade primitiva. Com efeito é bastante provável que uma condição fundamental da existência da sociedade primitiva consista numa fraqueza relativa de seu porte demográfico. As coisas só podem funcionar segundo o modelo primitivo se a população é pouco numerosa. Ou, em outros termos, para que uma sociedade seja primitiva, é necessário que ela seja pequena em número. E, de fato, o que se constata no mundo dos selvagens é um extraordinário esfacelamento das “nações”, tribos, sociedades em grupos locais que tratam cuidadosamente de conservar sua autonomia no seio do conjunto do qual fazem parte, com o risco de concluir alianças provisórias com seus vizinhos “compatriotas”, se as circunstâncias – guerreiras em particular – o exigem. Essa atomização do universo tribal é certamente um meio eficaz de impedir a constituição de conjuntos sóciopolíticos que integram os grupos locais, e, mais além um meio de proibir a emergência do Estado que, em sua essência, é unificador.
Ora, é perturbador constatar que os Tupi-Guarani parecem, na época que a Europa os descobre, afastar-se sensivelmente do modelo primitivo habitual, e em dois pomos essenciais: a taxa de densidade demográfica de suas tribos ou grupos locais ultrapassa claramente a das populações vizinhas; por outro lado, o porte dos grupos locais não tem medida comum com o das unidades sociopolíticas da Floresta Tropical. Evidentemente, as aldeias tupinambá, por exemplo, que reuniam vários milhares de habitantes, não eram cidades; mas deixavam igualmente de pertencer ao horizonte "clássico" da dimensão demográfica das sociedades vizinhas. Sobre essa base de expansão demográfica e de concentração da população se destaca - fato também inabitual na América dos selvagens, ao menos na dos impérios - a tendência evidente das chefias em obter um poder desconhecido alhures. Os chefes tupi-guarani não eram certamente déspotas, mas não eram mais de modo algum chefes sem poder. Não cabe aqui empreender a longa e complexa tarefa de analisar a chefia entre os Tupi-Guarani. Baste-nos simplesmente revelar, num extremo da sociedade, se é possível dizer, o crescimento demográfico, e, no outro, a lenta emergência do poder político. Sem dúvida não cabe à etnologia (ou ao menos a ela sozinha) responder às questões das causas da expansão demográfica numa sociedade primitiva. Em compensação, incumbe a essa disciplina a articulação do demográfico e do político, a análise da força que o primeiro exerce sobre o segundo através do sociológico.
Não cessamos, ao longo deste texto, de proclamar a impossibilidade interna do poder político separado numa sociedade primitiva, a impossibilidade de uma gênese do Estado a partir do interior da sociedade primitiva. E eis que, ao que parece, evocamos nós mesmos, contraditoriamente, os Tupi-Guarani como um caso de sociedade primitiva onde começava a surgir o que poderia ter podido se tornar o Estado. Incontestavelmente se desenvolvia, nessas sociedades, um processo, sem dúvida, em curso já há muito tempo, de constituição de uma chefia cujo poder político não era negligenciável. a ponto mesmo de os cronistas franceses e portugueses da época não hesitarem em atribuir aos grandes chefes de federações de tribos os títulos de "reis de província” ou “régulos. Esse processo de transformação profunda da sociedade tupi-guarani teve uma interrupção brutal com a chegada dos europeus. Quererá isso dizer que, se o descobrimento do Novo Mundo tivesse sido adiado de um século por exemplo, uma formação estatal seria imposta às tribos indígenas do litoral brasileiro? Sempre é fácil, e arriscado, reconstruir uma história hipotética que nada viria desmentir. Mas, no presente caso, pensamos poder responder com firmeza pela negativa: não foi a chegada dos ocidentais que cortou a emergência possível do Estado entre os Tupi-Guarani, e sim um sobressalto da própria sociedade enquanto sociedade primitiva, um sobressalto, uma sublevação de alguma forma dirigida, se não explicitamente contra as chefias, ao menos, por seus efeitos, destruidor do poder dos chefes. Queremos falar desse estranho fenômeno que, desde os últimos decênios do século XV, agitava as tribos tupi-guarani a predicação inflamada de alguns homens que, de grupo em grupo, concitavam os índios a tudo abandonar para se lançarem na procura da Terra sem Mal, do paraíso terrestre.
Chefia e linguagem estão, na sociedade primitiva, intrinsecamente ligadas; a palavra é o único poder concedido ao chefe: mais do que isso a palavra é para ele um dever. Mas há uma outra palavra, um outro discurso, articulado não pelos chefes, mas por esses homens que, nos séculos XV e XVI, arrastavam atrás de si milhares de índios em loucas migrações em busca da pátria dos deuses: é o discurso dos karai, é a palavra profética, palavra virulenta eminentemente subversiva que chama os índios a empreender o que se deve reconhecer como a destruição da sociedade. O apelo dos profetas pra o abandono da terra má, isto é, da sociedade tal como ela era, para alcançar a Terra sem Mal, a sociedade da felicidade divina, implicava a condenação à morte da estrutura da sociedade e do seu sistema de normas. Ora, a essa sociedade se impunha cada vez mais fortemente a marca da autoridade dos chefes, o peso de seu poder político nascente. Talvez então possamos dizer que, se os profetas, surgidos no coração da sociedade, proclamavam mau o mundo em que os homens viviam, é porque eles revelavam a infelicidade, o mal, nessa morte lenta à qual a emergência do poder condenava num prazo mais ou menoslongo, a sociedade tupi-guarani, como sociedade primitiva, como sociedade sem Estado. Habitados pelo sentimento de que o amigo mundo selvagem tremia em seu fundamento, perseguidos pelo pressentimento de uma catástrofe sócio-cósmica, os profetas decidiram queera preciso mudar o mundo, abandonar o dos homens e ganhar o dos deuses.
Palavra profética ainda viva, como o testemunham os textos "Profetas na selva" e "Do Um sem oMúltiplo". Os 3 ou 4 mil índios Guarani que subsistem miseravelmente nas florestas do Paraguai gozam ainda da riqueza incomparável que os karai lhes oferecem. Estes não são mais - duvidamos - condutores de tribos, como seus ancestrais do século XVI, não é mais possível aprocura da Terra sem Mal. Mas a falta de ação parece ter permitido uma embriaguez dopensamento, um aprofundamento sempre mais tenso da reflexão sobre a infelicidade dacondição humana. E esse pensamento selvagem que quase cega por tanta luz, nos diz que o lugarde nascimento do Mal, da fonte da infelicidade, é o Um.
Talvez seja preciso dizer um pouco mais e se perguntar o que o sábio guarani designa sob onome de Um. Os temas favoritos do pensamento guarani contemporâneo são os mesmos que inquietavam, há mais de quatro séculos, aqueles a quem já se chamava karai, os profetas. Por que o mundo é mau? O que podemos fazer para escapar ao mal? Questões que ao cabo de gerações esses índios não cessam de se colocar: os karai de agora se obstinam pateticamente em repetir o discurso dos profetas de outros tempos. Estes sabiam, pois, que o Um é o mal; eles o diziam de aldeia em aldeia, e as pessoas os seguiam na procura do Bem, na busca do não-Um. Temos, portanto, entre os Tupi-Guarani do tempo do Descobrimento, de um lado uma prática – a migração religiosa – inexplicável se não vemos nela a recusa da via em que a chefia engajava a sociedade, a recusa do poder político isolado, a recusa do Estado; do outro, um discurso profético que identifica o Um como a raiz do Mal e afirma a possibilidade de escapar-lhe. Em que condições é possível pensar o Um? É preciso que, de algum modo, sua presença, odiada ou desejada, seja visível. É por isso que o Um é o Estado. O profetismo tupi-guarani é a tentativa heróica de uma sociedade primitiva para abolir a infelicidade na recusa radical do Um como essência universal do Estado. Essa leitura "política" de uma constatação metafísica deveria então incitar a colocar uma questão, talvez sacrílega: não se poderia submeter a semelhante leitura toda a metafísica do Um? Que acontece ao Um como Bem, como objeto preferencial, que, desde sua aurora, a metafísica ocidental impõe ao desejo do homem? Detenhamo-nos nesta perturbadora evidência: o pensamento dos profetas selvagens e aquele dos gregos antigos pensam a mesma coisa, o Um; mas o índio Guarani diz que o Um é o Mal, ao passo que Heráclito diz que ele é o Bem. Em que condições é possível pensar o Um como Bem? Voltemos, para concluir, ao mundo exemplar dos Tupi-Guarani. Eis uma sociedade primitiva que, atravessada, ameaçada pela irresistível ascensão dos chefes, suscita em si mesma e libera forças, capazes, mesmo ao preço de um quase-suicídio coletivo, de fazer fracassar a dinâmica da chefia, de impedir o movimento que poderia levar à transformação dos chefes em reis portadores de leis. De um lado os chefes; do outro, e contra eles os profetas: tal é, traçado segundo suas linhas essenciais, o quadro da sociedade tupi-guarani no final do século XV. E a "máquina" profética funcionava perfeitamente bem, uma vez que os karai eram capazes de se fazer seguir por massas surpreendentes de índios fanatizados, diríamos hoje, pela palavra desses homens, a ponto de acompanhá-los até na morte.
O que quer isso dizer? Os profetas, armados apenas de seus logos, podiam determinar uma "mobilização" dos índios, podiam realizar esta coisa impossível na sociedade primitiva: unificar na migração religiosa a diversidade múltipla das tribos. Eles conseguiram realizar, de um só golpe, o "programa" dos chefes! Armadilha da história? Fatalidade que apesar de tudo consagra a própria sociedade primitiva à dependência? Não se sabe. Mas, em todo o mais poder do que os segundos detinham. Então talvez seja preciso retificar a idéia da palavra como oposto da violência. Se o chefe selvagem é obrigado a um dever de palavra inocente, a sociedade primitiva pode também, evidentemente em condições determinadas, se voltar para a escuta de uma outra palavra, esquecendo que essa palavra é dita como um comando: é a palavra profética. No discurso dos profetas jaz talvez em germe o discurso do poder, e sob os traços exaltados do condutor de homens que diz o desejo dos homens se dissimula talvez a figura silenciosa do Déspota.
Palavra profética, poder dessa palavra: teríamos nela o lugar originário do poder, o começo do Estado no Verbo? Profetas conquistadores das almas antes de serem senhores dos homens? Talvez. Mas, mesmo na experiência extrema do profetismo (porque sem dúvida a sociedade tupi-guarani tinha atingido, por razões demográficas ou outras, os limites extremos que determinam uma sociedade como sociedade primitiva), o que os selvagens nos mostram é o esforço permanente para impedir os chefes de serem chefes e a recusa da unificação; é o trabalho de conjuração do Um, do Estado. A história dos povos que têm um história é, diz-se, a história da luta de classes. A história dos povos sem história é, dir-se-á como ao menos tanta verdade, a história da sua luta contra o Estado.

Notas

1 Jaques Lizot, "Economie ou sociéte? Quelques thêmes à propos de l'étude d'une communautéd'Amérindiens.”Journal de Ia Sociiti des Amiricanistes, n. 9, 1973, pp 137-75.

 2 Ettore Biocca, Yanoama (Paris: Pkm, [9(9)'

Mimoires de Géronimo (Paris: Maspero, 197:1.).


Título Original: Lê Societé contre I’Etat

Tradução: Theo Santiago

Data Publicação Original: 1974

Capítulo da obra:
A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

CONCURSO DA UFOPA


No próximo domingo, 13 de maio de 2012, será aplicada, em Santarém/PA, a prova do concurso público para o preenchimento de cargos técnico-administrativos da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). A prova será composta de questões objetivas e uma redação dissertativa, com início às 8 e término às 12 horas, horário local, sendo necessário chegar com, no mínimo, 1 hora de antecedência.
O local de realização da prova consta no cartão de inscrição, que deve ser impresso pelo candidato no endereço eletrônico do Centro de Processos Seletivos (CEPS) da UFPA: http://www.ceps.ufpa.br. Serão 11 locais de prova, incluindo os dois campi da UFOPA, totalizando 160 salas de aula. O local com maior número de candidatos será a Escola Estadual Álvaro Adolfo da Silveira.
No total, 5.443 pessoas se candidataram às 43 vagas oferecidas, sendo 18 para o nível médio e 25 para o nível superior. A maior demanda é para o cargo de assistente administrativo: são cerca de 315 candidatos para cada uma das 13 vagas.
No dia da prova, é obrigatório apresentar o cartão de inscrição e documento de identidade original com foto, além de levar caneta esferográfica de tinta azul ou preta. A prova objetiva consistirá de 30 questões de múltipla escolha, valendo 60 pontos. A redação, que deve ter entre 20 e 30 linhas, valerá 10 pontos. Serão eliminados os candidatos que obtiverem menos de 50% de acertos na prova objetiva e menos de 5 pontos na redação. Os critérios de avaliação estão disponíveis no Anexo III do edital, na mesma página eletrônica.
O gabarito das questões objetivas será divulgado até 48 horas após a realização da prova. Já a grade de correção da prova de redação será divulgada a partir do dia 24 de maio de 2012, também no sítio do CEPS.
O prazo de validade do concurso será de 1 ano, a contar da data de publicação do resultado no Diário Oficial da União, e prorrogável por mais 1 ano. Os vencimentos básicos são de R$1.821,94 para os cargos de nível médio e de R$2.989,33 para os de nível superior.
Jussara Kishi - Comunicação/UFOPA

sábado, 5 de maio de 2012

Grand Prix BELÉM


Atletas de vários países estiveram no Estádio Olímpico do Pará neste sábado (5), fazendo o último treino para o 11o Gran Prix de Atletismo, que acontece no domingo (6).  A organização do evento finalizou os últimos ajustes no complexo de atletismo do Mangueirão, que deve receber um público de mais de 40 mil pessoas.
Dentre os atletas que passaram pelo Mangueirão estiveram alguns que já são velhos conhecidos do paraense, como Maurren Maggi, do salto em distância, principal nome feminino do atletismo brasileiro, com mais de 22 medalhas de ouro no currículo, sendo uma olímpica, conquistada em Pequim. O GP Belém é a primeira competição de que a atleta participa este ano. Ela declara que está feliz que a abertura de sua temporada esteja acontecendo na capital paraense. “Queria muito fazer a minha primeira competição no Brasil, em um local que me inspirasse. Belém é o lugar ideal, é o melhor público que tenho, que me empurra pra vitória”, diz Maurren.
A etapa do GP Belém é a primeira de cinco que antecedem as Olimpíadas de Londres, é uma competição importante no calendário do atletismo nacional e a festa da torcida é a principal expectativa dos esportistas. Mauro Vinicius comemora sua primeira disputa em Belém. Ele avalia que o público local é o maior estímulo ao atleta, que sai animado para as próximas competições. “É a segunda vez que participo do GP em Belém, é muito bom. Em 2008 fui o segundo colocado no salto em distância, este nao pretendo melhorar esta marca, o povo de Belém merece uma grande festa”.
Mauro retorna de uma lesão no joelho que o afastou das competições no ano passado, no entanto o processo de recuperação foi um sucesso. Em março deste ano ele foi campeão mundial de salto em distância, em Istambul (Turquia), saltando 8,23 metros. Ele espera dar continuidade a esse bom desempenho para representar bem o Brasil em Londres. Neste domingo ele é o favorito para conquistar a medalha de ouro. “Venci mais uma batalha ano passado, a medalha de ouro no Mundial foi uma enorme vitória. Mas o treinamento não para”.  Embora já esteja pré-selecionado para as Olimpíadas de Londres, os treinos continuam e a busca pelas melhores marcas o estimulam a fazer o melhor no Grande Prêmio Belém.
Marcos Eiró, titular da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel), explica que o GP demanda um trabalho integrado entre vários poderes e que a toda a logística vem sendo planejada há mais de um mês, para que não haja nenhum problema durante a realização do evento. "O trabalho reúne a Seel, Segup, Polícias Militar, Civil e Federal. Este evento é um presente para o povo paraense, que terá novamente a chance de assistir a um espetáculo de nível internacional”, diz.. A segurança do público e dos atletas será garantida por um efetivo de 220 homens da Polícia Militar trabalhará.
O 11o Grand Prix Caixa Governo do Pará de Atletismo começa às 08h30 da manhã deste domingo. O público deve retirar seus ingressos nas bilheterias do Mangueirão. Martinho Nobre, superintendente técnico da Confederação Brasileira de Atletismo, lembra que eles estarão disponíveis também no domingo e que garantem ao expectador participar do sorteio de um carro zero quilômetro.
(Agência Pará)

Programa Bolsa Permanência


A Diretoria de Avaliação e Informações Institucionais (DIAVI) torna público o resultado preliminar de seleção de bolsistas para o Programa Bolsa Permanência, edital 1/2012-PROPLAN/DIAVI, e ratifica que, de acordo com o cronograma publicado no sítio da UFOPA em 3/4/2012, o prazo para impetração de recurso é de 7 a 9 de maio de 2012. Confira AQUI.

Jatene cancela viagem


Por recomendação médica, o governador do Pará Simão Jatene cancelou a viagem que faria à China, comandando uma comitiva de empresários e secretários para uma missão comercial. O vice-governador Helenilson Pontes foi chamado às pressas para substituí-lo. A mudança causou transtornos, já que Pontes não possui visto de entrada no país, nem as vacinas exigidas para ingresso no território chinês.Na noite de ontem, equipes do cerimonial da governadoria tentavam resolver, em São Paulo, junto à embaixada chinesa, os problemas burocráticos para garantir o embarque do vice. A partida estava prevista para a madrugada deste sábado.


As informações sobre o estado de saúde do governador eram desencontradas. Para integrantes da comitiva, fontes do Palácio chegaram a informar que trata-se de uma arritmia cardíaca. Ao DIÁRIO, o secretário de comunicação, Ney Messias Junior garantiu que Jatene fora acometido por uma virose e, como a viagem até a China seria de 36 horas, os médicos recomendaram o cancelamento.
A mudança de planos surpreendeu os integrantes da comitiva. Alguns pensaram em desistir de seguir viagem sem Jatene, mas até o fechamento desta edição, a informação era de que apenas o deputado estadual Martinho Carmona (PMDB) havia decidido voltar para Belém.

A viagem à China vinha sendo planejada desde o início deste ano. Além do próprio governador, a comitiva seria formada por integrantes do governo como o secretário especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção, Sidney Rosa. Parte do grupo vai para Dubai e outra parte seguirá via Catar. Jatene comandaria o grupo que seguiria para Dubai e as informações são de que o governador planejara embarcar ainda na quinta-feira, quando teriam começado os problemas de saúde. As malas do governador chegaram a ser despachadas, segundo uma fonte, minutos antes do cancelamento oficial.

Objetivo

O objetivo da viagem, segundo material distribuído pela assessoria do governador é ampliar relações comerciais com os chineses, especialmente na área da indústria metal-mecânica. A viagem prevê também passagem pela Malásia onde o assunto principal será o comércio do óleo de palma.
Segunda economia do planeta, a China é hoje um dos parceiros comerciais mais cobiçados. Em julho do ano passado, o secretario Sidney Rosa esteve no país e voltou com a promessa de que é possível aumentar as relações comerciais dos chineses com o Pará. “Eles têm grande interesse na compra de alguns produtos paraenses e em contrapartida nos foram ofertados novos produtos, pois é de interesse do país que o Pará se torne um pólo importador do que é gerado na cadeia produtiva chinesa”, informou na ocasião, o secretário.

Durante a visita, a empresa Oyamota do Brasil, com sede em Castanhal, assinará acordo de cooperação com a empresa chinesa Kikihar, em Beijing. A meta da empresa é produzir esses vagões em Castanhal e exportá-los para todo o país.
Fonte: DOL

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pronatec inscrições


Estão abertas até o dia 16 deste mês as pré-matrículas para os cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Nesta primeira chamada de pré-matrícula o programa traz 1.206 vagas distribuídas em 59 cursos destinados aos estudantes do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos de nível médio da Rede Estadual de Ensino em Belém, Castanhal e Santarém.

Os cursos são ofertados pela Escola de Música da Universidade Federal do Pará (Emufpa) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). As pré-matrículas devem ser feitas nas escolas em que o aluno estiver regularmente matriculado. Para efetuá-la o aluno deverá apresentar seu CPF, um comprovante de residência e um telefone para contato. O aluno deverá atentar para o período de confirmação de matrícula que será de 21 a 25 de maio. Haverá ainda uma segunda chamada entre os dias 30 de maio e 1º de junho. As aulas começarão no dia 4 de junho.
Os cursos são de diversas áreas e podem ser consultados no site da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Entre eles estão o de montagem e reparador de computadores, auxiliar finaceiro, recepcionista, opeador de caixa, depilador, vendedor, trabalhador doméstico, cuidador infantil, camareira em meios de hospedagem, promotor de vendas, auxiliar administrativo, cabeleiro assistente, produtor cultural, auxiliar em Adminstração em redes, entre outros.
Ainda no final deste mês o Pronatec ofertará novos cursos e vagas. O novo período de pré-matrícula será de 21 de maio até 5 de junho para quem quiser ingressar em cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), do Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Instituto Federal do Pará (IFPA).
Fonte: Agência Pará

Filho mata mãe


“Jamais iria imaginar que aquilo iria tirar a vida da minha mãe”, afirma o vendedor que admitiu ter injetado a dieta em via errada na mãe internada no Hospital de Messejana, em Fortaleza, nesta quarta-feira (2), em Fortaleza. Segundo o vendedor, ele foi orientado por uma enfermeira a realizar procedimentos como aplicação de aerosol e injeção de alimentos pela sonda nos pacientes. “A primeira enfermeira que atendeu a gente nos ensinou a como fazer”, relata.
O vendedor explicou também que o episódio ocorreu após a mãe ter realizado exames e voltado para o leito, onde outra paciente perguntou se ele não iria aplicar a injeção que uma enfermeira havia deixao ao lado da cama. “Eu vi a medicação e fui dar, mas me confundi na hora e em vez de colocar na sonda coloquei na veia. Quando estava sentado, eu vi uma coisa estranha na minha mãe e levantei ligeiro, mas ela já estava babando. As enfermeiras me ensinaram, mas na hora eu tava (sic) abatido psicologicamente e arrasado e fiz o procedimento errado”, conta. Abatido pela morte da mãe, o vendedor critica a recomendação que diz ter recebido. “O que disseram para mim na verdade não era para acontecer. As pessoas que lá trabalham não deviam deixar a gente mexer naquilo. Se fosse uma pessoa rica, teria alguém para ajudar”, reclama. O corpo da idosa foi encaminhado para o Sistema de Verificação de Óbito (SVO) e a perícia foi realizada na quinta-feira (3) pela manhã, segundo o SVO. O filho informou que vai buscar o corpo na manhã desta sexta-feira (4) para realizar os procedimentos do enterro.O secretário de saúde do Ceará, Arruda Bastos, informou que o caso já está sendo acompanhado para analisar se foi cometido algum erro da equipe do hospital. Sobre o procedimento que o filho da paciente diz ter sido orientado a fazer, o secretário afirma que se trata de uma orientação que deve ser feita apenas em casa. “A orientação é que todo o corpo de enfermagem faça esse procedimento nos leitos, dentro do hospital. Pelo que vimos nesse caso, se trata de um paciente crônico que, depois de estabilizar sua situação, iria ter alta e aí sim os procedimentos deveriam ser feitos em casa pelos familiares”, ressalta
.Boletim de Ocorrência
O hospital informou que registrou um Boletim de Ocorrência no 6º Distrito Policial, no Bairro Messejana, para que a polícia investigue o caso. Em nota, a direção do hospital lamentou a morte da paciente, que estava internada havia cinco dias para realizar exames por conta de suspeita de câncer no pulmão.
O delegado titular da delegacia de Messejana, Paulo César Cavalcante de Andrade, confirmou que foi feito um B.O. para investigar a morte suspeita da idosa, mas disse que as investigações vão ser iniciadas depois da divulgação do laudo cadavérico, que tem previsão de 30 dias.


Fonte: G1

quinta-feira, 3 de maio de 2012

CINEMA EM SANTARÉM VOLTA A FUNCIONAR




A partir desta sexta-feira (4), os santarenos contarão com mais uma opção de lazer. Após seis anos de fechamento do Cinerama, será inaugurado no Shopping da cidade um novo cinema com capacidade para 138 pessoas, além dos espaços para portadores de deficiência.
A empresa Cine Laser Cinemas sob o comando de Júnior Maranho é a responsável pela instalação da estrutura no município. Em entrevista a equipe do PORTAL NOTAPAJOS.COM durante esta manhã de quinta-feira (3), o proprietário explicou que as obras estão sendo concluídas e que faltam apenas os retoques finais, mas garantiu que o ambiente será aberto ao público amanhã (4).A 1ª sessão está marcada para as 17h30 com exibição do infantil ‘Lorax – Em busca da Trúfula Perdida’; nas 2ª e 3ª sessões, respectivamente 19h30 e 21h30, será exibido ‘Fúria de Titãs 2’. “A gente quer trazer mais uma opção de entretenimento. Tudo que há de mais moderno na sala vai ter, ar condicionado, poltronas confortáveis, acesso para cadeirantes, o próprio shopping tem uma ótima estrutura. Então é só vir e aproveitar bastante”, afirma Maranho. Maranho explicou que a princípio será apenas uma sala com 138 poltronas, por esse motivo não seguirão circuito nacional de exibição filmes: “como tem mais filme lançando do que sala para a gente poder exibir, então não tem como. Então se a gente fosse lançar um filme, teríamos que passar um só filme o mês todo.”
A proposta de implantar uma segunda sala já está em prática. O outro espaço deverá ser composto por 150 poltronas.O ambiente de alimentação com vendas de pipoca, chocolate e refrigerante será aberto meia hora antes da primeira sessão. E dois dias (segunda e quarta-feira) serão reservados para promoções.Haverá sessões todos os dias, divididas da seguinte forma: de segunda a sexta-feira a primeira sessão iniciará às 17h30. Aos sábados, domingos e feriados às 15h30. As sessões seguintes dependem da duração do filme. A programação pode ser acompanhada AQUI. .Sobre as expectativas do novo negócio, Maranho disse: “faz algum tempo que não tem cinema em Santarém, aí apareceu a oportunidade, gostamos da cidade, é excelente. Acredito que vai dar muito certo.”
Serviços
Ingressos
Inteira:R$ 12,00
Meia: R$ 6,00 (Somente para estudantes que apresentarem documento e menores de 14 anos)
Local: Paraíso Shopping Center, localizada na Av. Mendonça Furtado, 3551.Cinema em Santarém
Na década de 70, Santarém possuía alguns cinemas, como Cine Acácia, Cine Olímpia, CineTapajós. O último a permanecer em funcionamento por quase 30 anos foi o Cinerama, inaugurado em junho de 1978.
Raul Loureiro, pai do cineasta Emanoel Loureiro decidiu construir o Cinerama em resposta à inauguração do luxuoso Cine Tapajós em 1977. A ideia foi implantar um cinema moderno e luxuoso para suplantar o Cine Tapajós.
O Cinerama foi fechado em março de 2006.

FONTE:  NOTAPAJOS