Bolsista do Programa Universidade
para Todos (Prouni) na Universidade de Caxias do Sul, a estudante Cibele Bumbel
Baginski não vê contradição entre sua condição e a posição da nova Arena, que
condena cotas raciais. A jovem de 23 anos assinou o estatuto e o programa do
partido em publicação no Diário Oficial da União nesta semana. Fundada
originalmente em 1966, a Arena dava sustentação ao governo militar. Os crimes
cometidos no período são investigados pela Comissão da Verdade, instituída pelo
governo federal em maio deste ano.Para Cibele, que cursa direito na universidade
da Serra do Rio Grande do Sul, a bolsa no Prouni nada tem a ver com a posição
contrária do novo partido a cotas raciais, de gênero, ou condições
"especiais". "Cotas que separam as pessoas por classe social,
cor, opção sexual ou qualquer outro fator de segregação são uma coisa. Uma
bolsa de estudos como o Prouni é outra. O Prouni é pago pelo governo federal
com os nossos impostos, inclusive os meus. E a minha nota do Enem condicionou
isto", explicou a estudante.Criado durante o governo de Luiz Inácio Lula
da Silva, o Prouni é dirigido a estudantes egressos do ensino médio da rede
pública ou particular, na condição de bolsistas integrais, com renda per capita
familiar máxima de três salários mínimos. O que, na avaliação de Cibele, é
diferente das cotas para negros ou egressos de escolas estaduais."O Prouni
não foi criado pra suprir vagas de escolas públicas em si, mas para sustentar a
universidade pública, que não há fisicamente", argumenta.Desde a tarde de
quinta (15), Cibele não parou de atender pessoas buscando informações. "A
repercussão foi maior que eu esperava. Foram quase 300 mensagens em nem
consegui responder", diz a estudante. A maioria dos contatos se dá pela
internet, por meio de buscas em redes sociais. "Meu nome é achado
facilmente. Não dá nem para me esconder", brinca a estudante.Para poder
lançar candidatos em pleitos, a Arena precisará reunir 491 mil assinaturas de
eleitores (0,5% dos votos válidos na última eleição para a Câmara dos
Deputados) de pelo menos nove estados (um terço do total). Por isso, Cibele
aceita usar seus perfis pessoais em redes para colaborar com a divulgação da
iniciativa. Antiga Arena sustentava governo militar
A Arena foi fundada originalmente
em abril de 1966 dentro do sistema de bipartidarismo imposto pelo regime, que
extinguiu outros 13 partidos que existiam antes. Enquanto a Arena sustentava o
governo militar, fazia oposição no Congresso o Movimento Democrático Brasileiro
(MDB).
O partido elegeu todos os
presidentes que se candidataram pela legenda, de Costa e Silva (1967-1969) a
João Figueiredo (1979-1985). Foi extinto junto com o MDB em novembro de 1979,
no processo de redemocratização que permitiu a abertura de novos partidos. Do
MDB surgiu o PMDB; os remanescentes da Arena foram o antigo PDS (atual PP) e a
Frente Liberal (atualmente DEM).
Nos anos 70, enquanto os
militares estiveram no poder, o país viveu o chamado "milagre
econômico", com altas taxas de crescimento econômico. No âmbito político,
o período foi marcado por perseguição aos opositores do regime, com a violação
de direitos humanos e políticos e a adoção de práticas como censura prévia da
imprensa, tortura e assassinatos.
Para fugir da repressão do Estado,
políticos, militantes, artistas e pessoas de vários outros setores da sociedade
buscaram exílio em outros países. Estima-se que mais de 420 pessoas foram
assassinadas ou dadas como desaparecidas durante o período de exceção. Em maio
deste ano, foi instalada a Comissão da Verdade, com o objetivo de apurar os
crimes cometidos no período.
O que era
Segundo o verbete do Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro, organizado pelo CPDOC/FGV, a Arena foi um
"partido político de âmbito nacional, de apoio ao governo, fundado em 4 de
abril de 1966 dentro do sistema de bipartidarismo instaurado no país após a
edição do Ato Institucional nº 2 (27/10/1965), que extinguiu os partidos
existentes, e do Ato Complementar nº 4, que estabeleceu as condições para a
formação de novos partidos. Desapareceu em 29 de novembro de 1979, quando o
Congresso decretou o fim do bipartidarismo e abriu espaço para a reorganização
de um novo sistema multipartidário".
O que será
De acordo com o estatuto
publicado no Diário Oficial da União, a nova Arena é um partido que
"possui como ideologia o conservadorismo, nacionalismo e
tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição de direita no
espectro político; devendo as correntes e tendências ideológicas ser aprovadas
pelo Conselho Ideológico (CI), visando a coerência com as diretrizes
partidárias. A Arena, em respeito à convicções ideológicas de Direita, não
coligará com partidos que declaram em seu programa eestatuto a defesa do
comunismo, bem como vertentes marxistas".
O que defendem os novos arenistas
- Privatização do Sistema
Penitenciário.
- Abolição de quaisquer sistemas
de cotas raciais, de gênero, ou condições "especiais".
- Aprovação da maioridade penal
aos 16 anos.
- Retorno ao currículo escolar
das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Latim.
- Ensino da História do Brasil e
História Geral sem ênfases tendenciosas doutrinariamente e com abrangência de
todos os continentes, e não somente alguns.
- Defender o Estado Necessário.
- Retomar o controle de todas as
empresas estatais que são fundamentais à proteção da Nação.
FONTE: G1